terça-feira, 6 de novembro de 2012




Estudo sobre a vida e obra de Agostinho de Hipona

O nome de Agostinho (Aurelius Augusinus) ocupa lugar de destaque não só na história do dogma, mas também na história geral da cultura. Além da teologia, os campos da filosofia, literatura, governo eclesiástico e jurisprudência também foram influenciados por seus escritos.
Foi um bispo, escritor, teólogo, filósofo e é um Padre latino e Doutor da Igreja Católica.
Na Igreja Católica, e na Igreja Anglicana, é considerado santo, e importante Doutor da Igreja, e o patrono da ordem religiosa agostiniana. Muitos protestantes, especialmente os calvinistas, mas também os luteranos consideram-no como um dos pais teólogos da Reforma Protestante ensinando a salvação e a graça divina.
Na Igreja Ortodoxa Oriental ele é louvado, e seu dia festivo é celebrado em 15 de junho, apesar de uma minoria ser da opinião que ele é um herege, principalmente por causa de suas mensagens sobre o que se tornou conhecido como a cláusula filioque. Entre os ortodoxos é chamado de "Agostinho Abençoado", ou "Santo Agostinho o Abençoado”.
A posição teológica de Agostinho enquadra-se na da igreja antiga, a qual ele completou ao menos no que se refere à sua parte “ocidental”. Reuniu e articulou a tradição cristã. Mas, ao mesmo tempo, contribuiu com algo de novo.
Do ponto de vista filosófico, Agostinho era neoplatônico. Essa escola de pensamento exerceu influência decisiva sobre ele, e nunca ele deixou de apresentar suas doutrinas cristãs em categorias derivadas dela. Podemos afirmar que do ponto de vista formal, a teologia de Agostinho é uma síntese de formas de pensamento cristãs e neoplatônicas.
Agostinho (355-430 d.C.) nasceu em Tagaste, no norte da África. Sendo sua mãe uma cristã devota, ele conheceu o Cristianismo desde cedo, mas seguiu por outros caminhos. Durante um grande período viveu em busca de prazeres, até que leu a obra O Hortêncio, de Cícero, quando começou uma busca incansável pela verdade. Essa busca começou no maniqueísmo, uma seita persa que ensinava a existência de dois princípios no Universo, o bem e o mal, que lutavam entre si. Os maniqueus consideravam o mal como princípio independente ao lado de Deus, poder que limitava o domínio de Deus e contra o qual Deus combatia. O maniqueísmo também se caracterizava por seu código de ética ascético, que frequentemente chegava ao oposto – ao libertinismo – entre seus membros.
Agostinho abandonou essa forma de pensar quando teve contato com a filosofia neoplatônica. No contexto do neoplatônico, conceituava-se o mal como qualidade negativa, não ser, apenas ausência do bem. Agostinho aceitou esta definição de mal, a qual constituiu a origem de seu diagnóstico da natureza do pecado.
Mais tarde Agostinho entrou em contato na Itália com Ambrósio de quem aprendeu a ler a Bíblia de maneira alegórica, método este que se tornou presente em suas leituras.
Segundo Agostinho sua conversão se deu através da passagem da Carta de Paulo aos Romanos (13.13-14). Estas palavras o levaram a abandonar sua vida mundana.

O Conceito Básico de Cristianismo de Agostinho

Agostinho desde sua conversão submeteu-se à autoridade da igreja e aceitou os ensinamentos da Escritura como regra de fé.
Em sua opinião, o cristianismo é o neoplatonismo não se excluíam mutuamente. Acreditava que, em vez disso, ideias neoplatônicas o capacitaram a encontrar o cristianismo e a entender suas implicações mais profundas. Como resultado, os fundamentos de sua posição teológica foram sempre, ao menos em parte, determinados por pressupostos neoplatônicos.
Depois de converter-se, Agostinho entendeu a relação entre teologia e filosofia de acordo com a seguinte fórmula: “Creio para que possa compreender”. A submissão à autoridade ocupava agora o primeiro lugar em sua vida. Acreditava agora que só pela fé se podia chegar a conhecer verdadeiramente a Deus, aceitando a verdade revelada. Não concluía com isso, entretanto, que a possibilidade de considerar a fé em termos racionais ficava excluída; julgava que a verdade da fé também podia ser alvo de compreensão, pelo menos até certo ponto. Mas o pensamento filosófico não mais ocupava o lugar de honra em sua vida. Agostinho substituiu este pensamento filosófico pela fé e pela submissão à autoridade da Escritura.
O neoplatonismo ensinava que a tendência mais elementar encontrada no homem é sua busca da felicidade, e é esta ideia, acima de tudo, que constituiu a o elo entre Agostinho e este sistema de pensamento. Em sua opinião, o pressuposto básico de todo esforço humano se encontra na concentração do homem sobre um objeto que lhe promete trazer certos benefícios. “Certamente todos desejamos viver felizes” dizia Agostinho.
Agostinho percebeu que a filosofia levanta questionamentos que a mesma não podia responder e não encontrava resposta satisfatória, pois todo bem humano trazia uma felicidade temporária. Contudo foi na Escritura Sagrada que ele descobriu a resposta que trouxe a sua alma paz. Agostinho percebeu que o homem não se satisfaz com que é apenas parcialmente bom ou que oferece valores de qualidade inferior. O que o homem realmente deseja é o “bem supremo”, isto é, aquilo onde possa dirigir suas aspirações mais profundas, algo de valor absoluto, um bem imutável e permanente. O próprio Agostinho afirma que apenas Deus é este bem supremo.
Conforme Agostinho, o alvo mais elevado é união com o bem supremo, como algo transcendente, não encontrado na esfera humana.
Agostinho distinguia entre o amor ao bem supremo (caritas), e o amor ao mundo (cupiditas) a saber, o desejo de buscar o bem nas coisas temporais. Caritas é a única forma de amor verdadeiro; cupiditas é uma forma falsa, pervertida.

A Doutrina da Igreja Segundo Agostinho
Com respeito à doutrina da Igreja, Agostinho continuou a desenvolver a tradição ocidental que se originara, acima de tudo, com Cipriano.
O que levou Agostinho a desenvolver seu conceito de igreja mais cuidadosamente foi a controvérsia donatista[1], que provocara divisões na igreja do Norte da África desde o final do terceiro século.
Este cisma principiou durante a perseguição de Diocleciano. Certas questões práticas relacionadas com a perseguição formaram a base das dificuldades. Por exemplo: cópias da Escritura poderiam ser entregues aos pagãos? (Poderia os pagãos ter acesso às escrituras?).
Originalmente essa, controvérsia também incluía uma questão pessoal: certo bispo de Cartago fora consagrado por alguém que entregara Escritura às autoridades romanas para serem destruídas durante um período de perseguição. O partido rigoroso era de opinião que tal ato (consagração deste homem – sua autoridade foi questionada) não era válido. Posteriormente a controvérsia ampliou-se a questão do batismo válido, da santidade da igreja, etc.
Os donatistas perpetuaram a antiga tradição pneumática: os únicos ocupantes legítimos de cargos são os que possuem os dons do Espírito (Pensamento defendido por Cipriano). Reconhecem como bispos verdadeiros apenas aqueles que demonstram, por suas vidas inatacáveis e seus dons, que são os portadores do Espírito. Esta posição levou-os também a questionar os batismos e ordenação de pessoas foram batizados por estes homens considerados indignos do ministério sacerdotal.
A posição dos donatistas como manifesta nas questões práticas acima mencionadas relacionava-se com seu conceito de igreja. Concebiam a igreja como comunhão dos santos. E, uma vez que a igreja existente tolerava os hipócritas e os que uma vez tinham apostatado, ou adotavam uma posição branda quanto à penitência, afirmavam que era necessário romper com essa igreja existente. Ela não eram mais uma igreja legitima.
Os donatistas insistiam que os que deixavam a igreja existente para filiar-se a sua organização tinham que ser rebatizados, uma vez, que não consideravam válido o batizo e nem a ordenação feita por uma falsa religião ou igreja.
 Agostinho apresentou suas ideias principais sobre a questão da igreja e dos sacramentos em oposição às doutrinas donatistas. Agostinho defendia que não era necessário o rebatismo e nem a reordenação, se colocando nesta questão em desacordo com Cipriano, faz distinção entre o sacramento em si e a eficácia do sacramento, o que Cipriano não fazia tal pensamento valia também para a questão da ordenação. Desta forma um herético batizado recebe o batismo assim como um justo, mas a eficácia deste sacramento só se concretiza na vida daquele que tem amor a unidade da igreja. Este principio, também era valido se uma pessoa fosse batizada ou ordenada por um herege. O que se conta é se o batizado ou ordenado está vivendo em unidade, ligado em uma comunhão plena com a Igreja Católica. Ele acreditava que só recebia o Espírito Santo por meio da Igreja Católica. A eficácia esta vinculada a unidade com a igreja institucional (que para ele representa estar ligada a igreja espiritual).
Quanto aos sacramentos, Agostinho usava o termo de uma forma mais ampla que a nossa. Entretanto, concordava que o batismo e a ceia do Senhor são os principais sacramentos. Influenciado pelo neoplatonismo, ele concebia nos elementos dos sacramentos um valor externo (símbolos que apontam à realidade espiritual) e valores espirituais para os mesmos. Os sacramentos são sinais externos que possuem conteúdo espiritual. Mas não estão necessariamente ligados a estes sinais.
Esta visão de Agostinho revela sua visão da igreja. Portanto, a igreja para ele era uma organização externa (institucional, visível, local) e a comunhão dos santos (invisível, espiritual, a verdadeira igreja). Estas não são idênticas, pois muitos dos que pertencem à igreja no sentido externo não estão numerados entre os verdadeiros crentes.
Agostinho acreditava também que existia uma terceira igreja, ele se refere a ela quando fala dela como números de predestinados. Este grupo de pessoas não pertence nem a igreja visível, nem a invisível.
A doutrina da Igreja de Agostinho foi importante, não apenas para a controvérsia donatista, mas também para sua descrição do reino de Deus e do reino do mundo apresentada em seu escrito A Cidade de Deus. Os 22 livros desta obra, completados durante os anos 413 a 426, foram escritos especialmente como apologia dirigida contra os pagãos que culpavam os cristãos pelos infortúnios sofridos pela sociedade.
Durante a Idade Média, entretanto, o pensamento de Agostinho foi interpretado como significando que o estado está subordinado à igreja, e A Cidade de Deus realmente tornou-se o fundamento da doutrina da supremacia papal sobre a autoridade secular. O conceito hierárquico, portanto, representava uma reinterpretação do ponto de vista de Agostinho.
De certa forma sua teologia colaborou para este erro, pois a afirmação de que a igreja é a única representante verdadeira do Reino de Deus e que somente nela se encontra salvação, levou a interpretação que somente a igreja governando o estado terreno poderia levar a sociedade a salvação.



A Doutrina De Pecado E Graça De Agostinho
Agostinho afirmou, em oposição a Pelágio, que a salvação é obra do próprio Deus; não é de origem humana. Numa controvérsia, o ponto principal se referia à relação entre as naturezas divina e humana em Cristo; na outra, à relação entre graça de Deus e o livre arbítrio do homem.
Agostinho opunha-se categoricamente a tais idéias de Pelágio. Seus conceitos de liberdade, de pecado e graça foram apresentados em vários escritos dirigidos contra o pelagianismo (cf. De Spiritu Et Littera, 412; De Natura Et Gratia, 415; Contra Julianum, 421). A controvérsia dizia respeito, em sua maior parte, aos seguintes pontos: o livre arbítrio, o pecado original, a conquista da salvação, graça e predestinação.
Agostinho descreve o homem diferenciando-o em quatros etapas: antes da queda, depois da queda, depois da conversão e na perfeição.
Livre arbítrio: No assim chamado estado original, isto é, quando o primeiro homem foi criado, ele possuía medida completa de liberdade. Tinha então livre arbítrio não somente no campo da ação; também era capaz de escolher entre o bem e o mal.
A capacidade de escolher o bem (evitar o pecado), segundo Agostinho, não pertencia ao homem por causa de seus dons naturais; pertencia-lhe somente por causa da ajuda da graça divina. Era a prima gratia que dava ao homem a liberdade de escolher o bem.
Mas a liberdade também encerra a possibilidade de uma queda, e o primeiro pecado foi ocasionado pelo livre arbítrio. A queda significa que o homem, em espírito de arrogância, afastou-se de Deus e se colocou na direção do mal. A caritas foi substituída pela cupiditas na vida do homem. O homem perdeu assim a dádiva da graça, e com ela a liberdade que constituía a capacidade de escolher o bem. Pois quando a graça foi perdida, alterou-se a natureza humana. A razão e a vontade não mais controlam os poderes inferiores da alma; por outro lado, estes poderes assumiram posição dominante, e o homem, como resultado, viu-se enredado nas malhas do desejo e guiado pela concupiscência. O homem é incapaz de livrar-se da servidão à concupiscência, porque nesta situação o mundo é o objetivo primordial de sua vontade, e não Deus.
A queda, portanto, significa que o homem perdeu a liberdade de escolher o bem. Como consequência, o homem agora se sente impelido a pecar. Aqui Agostinho opõe-se a Pelágio. Agostinho negava que o homem, depois da queda continuava a possuir livre arbítrio no verdadeiro sentido, a saber, a liberdade de escolher o bem. Em vez disso, está sob o impulso de pecar, o que quer dizer que age de tal maneira que a corrupção é inevitável. Boas obras isoladas podem ser realizadas, mas estas não modificam a intenção má de sua vontade.
Agostinho não é determinista, ele compreendia que o homem possuía uma liberdade limitada ou corrompida por causa de sua queda. A tendência do homem de escolher o mal determina o curso de sua conduta e o impede de fazer o bem.
Pecado: Para Agostinho o pecado original foi uma ofensa a Deus e que trouxe culpa ao homem perante Deus. A culpa herdada pelo pecado original é removida pelo batismo, de modo que o pecado original não é mais contado como pecado. Apesar disso, a condição pecaminosa permanece, mesmo depois do batismo.
O pecado não é simplesmente uma série de ações voluntárias isoladas; é corrupção real da natureza, resultante do fato que a própria direção da vontade está deturpada. Agostinho descreveu o pecado como perversão da vontade. Nisto vemos o principal ponto de conflito entre ele e Pelágio.
O pensamento que o pecado está implícito na natureza humana é sugerido pela própria ideia de ser a corrupção herdada. O Adão bíblico é o “homem” em geral (representa toda raça humana – é a semente de toda raça). Todos participam na culpa de Adão.
Assim também acontece com a corrupção humana; ela igualmente é herdada, como resultado da desobediência de Adão. Além disso, na opinião de Agostinho, nossa condição pecaminosa herdada também nos torna culpados perante Deus.
Pecado nas crianças: Agostinho concluiu que crianças não batizadas estão sujeitas à condenação. A teologia católica romana posterior abrandou esta afirmação de várias maneiras, e mesmo Agostinho sugeriu que as orações da família podiam, em alguns casos, substituir o batismo.
Limbo: Agostinho sugere que as crianças que morrem sem ser batizadas vão para um lugar chamado “limbo”, que não é o paraíso nem o hades (inferno) – nem bem-aventurança, nem sofrimento – um lugar à margem do inferno que abriga os não regenerados sem culpa pessoal.
A doutrina do pecado original também supõe a unidade da raça humana em Adão. Pois, caso contrário, como podia ser atribuída culpa ou responsabilidade a um indivíduo por algo que não fez? A posição agostiniana nesta questão não distingue entre crianças e adultos; a mesma ofensa se aplica a todos.
O pecado é um afastar-se de Deus por parte da vontade do homem, não se trata apenas de ações isoladas. Depois da queda o homem tornou-se incapaz de fazer o bem. Pode ocasionalmente fazer o bem, mas sua vontade é dominada pelo mal e suas ações sempre o dirigem a corrupção. Portanto para Agostinho não existe mais livre arbítrio e sim um servo arbítrio – que corresponde a dizer que o homem é incapaz de cooperar no interesse de sua salvação.
Salvação: A salvação resulta do perdão dos pecados, mediante a fé, independentemente de mérito humano. Nada há que o homem possa fazer de si mesmo para realizar esta salvação. Este foi o principal argumento de Agostinho contra Pelágio. Agostinho tomou esta ideia básica de Paulo, cuja doutrina da justificação pela fé teve influência decisiva sobre Agostinho. A vontade do homem é incapaz de fazer o bem e, portanto, a salvação deve ser obra do próprio Deus.
Mas, para Agostinho, graça inclui a regeneração do homem. A vontade do homem se altera, o amor é derramado nele; como resultado disto, o homem pode fazer verdadeiramente o que é bom e pode tornar-se cooperador de Deus na fé. Encarado de certo modo, Agostinho parece dizer que esta regeneração é o alvo. O amor a Deus (caritas) é o pressuposto da salvação do homem. Esta interpretação de Paulo, feita por Agostinho, é diferente da dos Reformadores. Para os reformadores somente a fé em Cristo e em sua obra que justifica o homem. O homem é salvo pela fé e nada mais.
Predestinação: A oposição de Agostinho a Pelágio expressou-se mais fortemente em sua doutrina da predestinação. A graça, que é a única fonte da salvação do homem, é a vontade misericordiosa de Deus; ela é, ao mesmo tempo, onipotente. A onipotência desta graça significa que a salvação do homem depende apenas da vontade e do decreto de Deus. A esse pensamento deu-se o nome de monergismo[2]. Deus, na eternidade, escolheu certos homens para serem arrancados da massa corrupta e para participarem de sua salvação. “Agostinho baseou esta conclusão em Romanos 8.30 – E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou”.
O fundamento decisivo da salvação humana, portanto, não se encontra em nosso méritos ou no livre arbítrio, mas, ao invés disso, na vontade de Deus. Para Agostinho, isto significava que os que foram escolhidos um dia serão salvos. Não se pode imaginar que venham a cair novamente aqueles que uma vez chegaram a crer. A graça os supre não apenas com a fé, mas também com o dom da perseverança. Esta linha de pensamento fez surgir a teoria denominada “graça irresistível”. O termo em si, só foi usado mais tarde pelos reformadores.
Agostinho acreditava até que os predestinados podem existir fora da igreja. Essas pessoas seriam salvos pelo poder da graça que operaria sem os meios ao nosso dispor. Seguindo esta linha de pensamento, se alguém não era salvo, era porque Deus não desejou sua salvação, pois nada pode ser feito sem a vontade e o poder de Deus; e nada que Deus queira realizar é impossível para Ele.
Criação: Agostinho rejeitava a interpretação literal dos sete dias da criação e entendia os “dias” da criação como épocas ou eras de duração indefinida.

Podemos dizer que o pensamento teológico de Agostinho foi sendo moldado no decurso de suas controvérsias, que deram em três etapas:
Primeira: No combate ao maniqueísmo.
Segunda: No combate aos donatistas.
Terceira: No combate à Pelágio e seus seguidores.


Referências
CAIRNS, Earle E. Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo, Editora Vida Nova, 2008.
GILSON, Etienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. São Paulo, Paulus, 2006.
OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã. São Paulo, Editora Vida, 2001.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Donatismo< disponível em 03 de novembro de 2012.


[1] O Donatismo (cujo nome advém de Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia e posteriormente de Cartago) foi uma seita religiosa cristã, considerada herética e cismática pelo catolicismo. Surgiu nas províncias do Norte de África na Antiguidade Tardia. Iniciou-se no início do século IV e foi extinta no final do século VII. Os autores que mais influenciaram os donatistas, em termos de doutrina religiosa, foram São Cipriano, Montano e Tertuliano.

[2] Monergismo é a crença de que a agência humana é inteiramente passiva e a de Deus totalmente determinante, tanto na história universal quanto na salvação individual. Deus é o único agente e energia ativa na salvação do homem.

domingo, 25 de março de 2012

Os ebionistas


O ebionismo nunca foi uma doutrina muito difundida. Parece ter desaparecido na medida em que a igreja foi se tornando cada vez mais gentílica e menos judaica. Isto não significa, contudo, que esse ensino não representou um desafio para a igreja dos primeiros séculos. Pelo contrário, o que estava em jogo aqui era a singularidade de Jesus Cristo, em contraste com a possibilidade de distorcer sua figura de modo tal que pudesse simplesmente ser sobreposto à antiga religião judaica. Dessa forma, segundo o ensino ebionista, Jesus deixava de ser único e central. Ele não era mais o filho unigênito de Deus, mas um mero profeta dentro da sequência de profetas. Ele não era mais o salvador, mas simplesmente um elemento - algumas vezes secundário - da ação de Deus ao longo desta era.
Finalmente, em um outro nível, havia discussões sobre o relacionamento entre o Cristianismo e o Judaísmo que tentavam reinterpretar não apenas o Cristianismo em si, mas o Judaísmo também. Esse era o caso de um certo tipo de Cristianismo judaizante que, embora provavelmente permanecesse em íntima relação com o ebionismo, também foi influenciado pelo gnosticismo.
O principal expoente desse tipo de Cristianismo judaizante parece ter sido Elcasai (também chamado de Elkesai, Elcesai ou Elchasai). Ele viveu na primeira metade do século 2º, mas dificilmente algo pode ser conhecido sobre sua vida. Sua doutrina é claramente ebionista, embora com uma forte influência gnóstica; baseia-se numa revelação que Elcasai afirmava ter recebido de um anjo que tinha mais de cento e cinquenta quilômetros de altura. Este anjo era o Filho de Deus. Perto dele havia outro anjo de proporções similares, embora feminino, e este era o Espírito Santo.
O conteúdo da revelação de Elcasai é conhecido apenas por meio de citações e outras referências encontradas nos escritores cristãos que o atacavam. A partir de seu testemunho pode-se concluir que o ensino de Elcasai era apenas uma forma de ebionismo - era necessário guardar a Lei e ser circuncidado, sendo Jesus um mero profeta - com algumas influências gnósticas: especulações astrológicas, numerologia e tendências dualistas. Sua principal fortaleza parece ter se estabelecido no Oriente, especialmente além do Eufrates, provavelmente a terra natal do próprio Elcasai. De qualquer modo, esta seita, embora pequena, é importante, pois talvez tenha influenciado Maomé, o fundador do Islamismo.
GONZÁLEZ, Justo L., "Uma História do Pensamento Cristão". São Paulo: Cultura Cristã, 2004. vol. 1, pp. 121-122

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A necessidade de um “upgrade” no sistema operacional da Igreja.

Em um encontro realizado na Noruega, Neil Cole – autor do livro Igreja Orgânica – nos explica a necessidade de um “upgrade” no sistema operacional da Igreja.

Algumas perguntas para a reflexão de todos aqueles que estão atentos ao mover do Espírito em nossa geração:

1) A questão das finanças - É lícito, ético, bíblico a Igreja gastar mais dinheiro em estruturas eclesiásticas (salários, imóveis, eventos, etc) do que com os necessitados da Igreja e com missões? E mais: onde, no NT, encontramos bases bíblicas para cobrar o dízimo como um imposto compulsório? Se a Lei do AT se aplica na questão dos dízimos, quais são os parâmetros desta linha teológica que separa o dízimo malaquiano dos demais preceitos do pacote mosaico (como a circuncisão e a guarda do sábado) cuja obrigatoriedade foi abolida após o advento do Messias?

2) A questão do clericalismo - Desde a Reforma Protestante, “sacerdócio universal” se tornou uma espécie de jargão teológico de cunho meramente posicional, com pouquíssima ou nenhuma expressão prática na Igreja Protestante. Apesar da ruptura com o catolicismo há 500 anos atrás, ainda favorecemos a infame distinção entre cleros e leigos na Igreja. Como devolver o sacerdócio aos discípulos, tornando-os participantes da colheita ao invés de meros expectadores de culto? E mais: como pastorear as ovelhas sem controlá-las ou torná-las co-dependentes, formando obreiros para servir o Reino, ao invés de mantê-las eternamente em simbiose clero-laical? Como mudar a imagem do presbitério, do pastor-sacerdote ao mentor-facilitador?

3) A questão missional  O “culto”, em seu formato tradicional, é a vaca sagrada do evangelicalismo. O sermão pregado por um orador profissional foi transformado no “clímax espiritual” da experiência cristã. Na prática, a maioria dos evangélicos entende que ir a um culto, cantar e ouvir uma mensagem é a coisa mais importante na fé cristã. Como resultado, a maior parte dos recursos da Igreja (pessoas, tempo e dinheiro) são gastos na preparação de eventos. Onde estão as bases bíblicas para esta prática? Como canalizar os recursos disponíveis de maneira eficiente para tornar a Igreja mais missional e menos ensimesmada? Como podemos otimizar os recursos na Igreja para gastar mais tempo com os perdidos e com os necessitados, ao invés de gastar a maior parte do tempo entretendo os que já são salvos?

4) A questão da koinonia – No Novo Testamento, a Ekklesia era “costurada por relacionamentos”. Hoje em dia, muitas vezes é composta por um amontoado de estranhos que se reunem uma vez por semana para “adorar a Deus” e ouvir um sermão. A ênfase da Igreja é a pregação ao indivíduo, não o estilo de vida comunitário. O sucesso de uma igreja local é medido pelo número de cabeças em um culto, não pela profundidade dos relacionamentos entre os membros. Como criar ambientes de aprendizado, oração e ministração em que ao mesmo tempo possamos nos conhecer intimamente e “lavar os pés” uns dos outros?

Por mais que falemos de reforma e da relevância da Igreja na pós-modernidade, toda mudança que fizermos será meramente cosmética se não mudarmos o sistema operacional da Igreja. É imperativo que dediquemos tempo para refletir e discutir estas questões, esforçando-nos para fornecer respostas sinceras à nossa geração. Disso depende o legado que oferecemos a nossos filhos.

Precisamos urgentemente de um upgrade.

Ecclesia semper reformanda est.

Porque Jesus seria deixado para trás pelas igrejas?


O MUNDO É MINHA PARÓQUIA  (  John Wesley)

   A internet é meu Púlpito (  Oséias Vieira) 


Porque Jesus seria deixado para trás pelas igrejas?
 
No sábado pela manhã, deparei-me com essa charge no  facebook, a mesma foi postada pelo meu amigo, o Teólogo Fernando Marin, em seu perfil. Dei boas gargalhadas, pois esta  é realmente uma ótima piada, e que realmente reflete a realidade de muitas instituições eclesiásticas.

Então me coloquei a pensar: "Se Jesus estivesse entre nós hoje, Ele ficaria de fora de muitas 'igrejas'. Ostracizado, banido, exilado... Por vários e muitos motivos, inclusive pelo dinheiro."

Comecei a enumerar alguns fatos - além do dinheiro - pelos quais os 'pastores' de hoje, deixariam o Cristo de Deus fora das 'suas igrejas':

1.              O Cristo bebe vinho;
2.              O Cristo de Deus não ostenta riquezas, carrões, e roupas 'chiques';
3.              O Cristo é solteiro Não poderia ser pastor em algumas denominações;
4.              O Cristo andou com prostitutas, bêbados, ladrões... E hoje, ele andaria com esses e com os gays, e os drogaditos (não para fazer o que eles fazem mas para amá-los, e mostrar-lhes o Amor do Pai;
5.              O Cristo não prega a malfadada, a esdrúxula, a obscura, a doentia, a tôsca, a perversa, e cancerígena 'teologia da prosperidade' (que eu prefiro chamar de 'teoria da prosperidade');
6.              O Cristo de Deus não destorce a mensagem, para extorquir o fiéis, e encher os bolsos com dinheiro, iates, jatinhos, viagens internacionais, e para pagar as faculdades caríssimas dos filhos em Boston, em New York, em London...;
7.              O Cristo fala manso. Ele não grita, não pula, não sapateia - Seria taxado de 'morto espiritualmente','sorveteriano'... Sem 'fogo'sem 'unção''frio'... Dir-se-ia dele, que Deus o vomitaria no dia do juízo, e que Ele não é 'sapatinho de fogo', ou 'canela de fogo'... Entre outras coisas;
8.              O Cristo de Deus, com certeza faria a opção pelos pobres. Abraçaria a Teologia da Libertação, oEvangelho Social, o Evangelho Político... E seria duramente criticado, excomungado como o Leonardo Boff, banido e demonizado. Seria chamado de 'liberal' e 'libertino'... como fazem com o Reverendo Carlos Calvani e com outros tantos sacerdotes e Teólogos;
9.              O Cristo seria chamado de gay, por beijar os seus discípulos, e seria expulso da maioria das denominações - homem não pode beijar homem. Seria chamado de safado por beijar as irmãs, e de pedófilo por beijar e dar carinho às crianças, pondo-as no colo, como fez para demonstrar para Thiago e para Filipe, que para entrar no Reino dos Céus é necessário ser como uma criança;
10.           O Cristo de Deus, não poderia entrar em muitas igrejas, e seria expulso, ou severamente punido e esquecido em outras tantas, por usar cabelos e barba grandes. Seus algozes lhe chamariam hostilmente de 'hippie' e'vagabundo', entre outras coisas...
Eu poderia ficar aqui o dia todo, enumerando os motivos pelos quais Jesus não poderia adentrar, ou fazer parte de muitas instituições eclesiásticas. Entretanto, deixo para o leitor  e para a leitora a tarefa de completar essa lista de dez simples motivos, pelos quais os farizeus de hoje excluiriam o Senhor.


Apenas para ilustrar
Em algumas 'igrejas', Jesus seria:
1.              'Colocado no banco' - Em disciplina;
2.              Fariam uma carta-denúncia contra Ele. Entregariam uma para o pastor presidente, para o presbitério ou para o  Bispo, apóstolo, pai-póstolo  e uma cópia nas mãos dele;
3.              Fariam reuniões para expulsá-lo;
4.              Convocariam um concílio, conselho, plebiscito, para fazer-se retratar;
5.              Se reuniriam na surdina para tramar contra Ele;
6.              Fariam convenções para neutralizá-lo;
7.              Mandariam Ele para pastorear em um interiorzinho, ou na favela;
8.              'Queimariam' Ele na primeira oportunidade;
9.              Dificultariam ao máximo o Ministério d'Ele, isso se Ele conseguisse chegar ao presbiterato, ou seja, ordenado, ou nomeado, ou 'ungido';
10.           Puxariam o tapete d'Ele na primeira oportunidade, e colocariam a igreja contra Ele...
Você pode ajudar a construir essa lista também!


Pensando um pouco mais
Entretanto depois desse terrível escândalo financeiro envolvendo a fraude e o desvio dos dízimos de Malaquias 3:10  na instituição eclesiástica denominada 'Igreja' (postagens abaixo), também comecei a pensar em alguns motivos pelos quais, Jesus rejeitaria as igrejas de hoje, e se tornaria um 'Cristão Desigrejado', ou um 'Cristão Independente': 
1.              Pastores ladrões;
2.              Desvios, fraudes, enganações, sumiço... Nas finanças das igrejas;
3.              Uso abusivo do texto em Malaquias 3.8;
4.              'Teologia da Prosperidade';
5.              G12;
6.              Gritaria;
7.              'Profetadas';
8.              'Reveladas' e 'revelamentos';
9.              Profeteiros' e 'profeteiras';
10.           'Sapatos e canelas de fogo';
11.           Exageros na homilia, na música, na liturgia...;
12.           Arrogância;
13.           Desamor;
14.           Fofocas;
15.           Falta de perdão;
16.           Destorção do Evangelho;
17.           Falta de ética;
18.           Julgamento;
19.           Ostracismo e exclusão;
20.           Intolerância religiosa;
21.           Disseminação do ódio no sermão;
22.           Promiscuidade, dissimulação e hipocrisia;
23.           Demonização do outro;
24.           Falta de misericódia;
25.           Falsidade e traição...
Que tal você ajudar a contruir essa lista também? Sei que todos têm alguma coisa para acrescentar à cada uma dessas três listas acima.
Observem que nessa minha lista de motivos pelos quais Jesus, o Cristo de Deus rejeitaria as igrejas e templos que aí estão, os quatros primeiros ítens giram em torno do dinheiro. Os sete ítens seguintes são sobre dogmas e doutrinas, e os catorze últimos ítens, estão relacionados ao caráter e ao comportamento dos seres humanos.

Pretendo publicar (ainda nesse ano) um texto mais elaborado, que vai analizar as pequisas que abordam o crescimento de 'evangélicos não praticantes', mais conhecidos como 'crentes desigrejados', cujo objetivo é refletir o 'Novo retrato da fé no Brasil'. Não é a toa que cresce no Brasil, o número de cristãos que não querem mais ir à igreja. Esse fenômemo sócio-religioso está construindo a 'Nova face da igreja brasileira'.

Fonte:  Teólogo Fernando Marin

Pequenas modificações feita por Oseias de Lima Vieira