terça-feira, 23 de junho de 2009

O Surgimento dos Menonitas



Tradução: João A. de Souza filho, historiador e pesquisador
Nota introdutória:
Os menonitas são, na verdade, a continuidade dos Irmãos, fieis comprometidos com
o evangelho de Cristo que mantiveram sua linhagem evangélica ligada ao tempo dos
apóstolos. Receberam o nome de menonitas devido ao seu líder, Menno Simon que
percorreu a Europa visitando e fortalecendo os “irmãos” perseguidos tanto pela Igreja
romana quanto pelos reformadores Lutero e Zwinglio.
Menno Simon que viveu no período da reforma (1492-1559), homem qualificado
para pregar, e sendo um dos principais líderes que pregavam o batismo, escreveu:
“Ninguém pode me acusar de concordar com o ensinamento de Münster, ao contrário,
durante dezessete anos até hoje eu me opus e lutei contra eles, pessoal e publicamente,
falando e escrevendo. Os que à semelhança da população de Münster recusam a cruz de
Cristo, desprezam a palavra de Deus e se entregam ao pecado imaginando que estejam
certos, nunca os reconheceremos como nossos irmãos e irmãs. Os que nos acusam pensam
que só porque batizamos em águas da mesma maneira que eles serão reconhecidos como
nossos irmãos. E respondo: Se o batismo exterior faz tanta diferença, então eles devem
saber que tipo de grupo eles são, pois é evidente que assassinos e adúlteros e outros tais que
foram batizados como eles o foram não fazem parte da igreja”.
Depois dos acontecimentos em Münster a congregação dos irmãos passou a ser
acusada falsamente de todo tipo de heresias, e a perseguição foi ainda maior. A esperança
de que pudessem obter liberdade de consciência e de culto e de se tornarem uma força na
sociedade germânica desapareceu. Os remanescentes dispersos recebiam visitas e eram
fortalecidos, diante do perigo que corriam por Menno Simon, o que gerou mais tarde os
menonitas.
Em sua autobiografia * escrita depois de 18 anos de atividades ele relata de como
* Geschichte der Alt-Evangelischen Mennoniten Brüderschaft in Russland, P.M. Friesen
aos 24 anos se tornou sacerdote católico na vila de Pingjum (em Friesland, norte da
Holanda). “Quanto as escrituras”, escreveu, “eu nunca a abri com medo de ser mau
conduzido... um ano depois vinha o pensamento do que fazer com o pão e o vinho na
Missa, de que aqueles elementos poderiam não ser a carne e o sangue do Senhor... a
princípio imaginava que tais pensamentos viessem do diabo que queria me desviar da fé.
Sempre confessei e orei a este respeito, mas não conseguia me livrar de tais pensamentos”.
Ele passava seu tempo bebendo e gastando o tempo com outros padres, e sempre que se
mencionava as escrituras ele zombava dela. “finalmente decidi ler o Novo Testamento de
uma só vez com diligência. Nunca fiz progresso na Bíblia, anteriormente, e descobri que
estava sendo enganado. Pela graça de Deus avancei dia a dia no conhecimento das
escrituras, a ponto de me chamarem de pregador evangélico, erroneamente, por certo.
Todos passaram a me procurar e a me elogiar, pois o mundo me amava e eu ao mundo. No
entanto afirmavam que eu pregava a palavra de Deus e de que eu era um bom homem.”
“Depois, apesar de nunca haver ouvido falar dos irmãos, aconteceu que um tal de
Sicke Snyder, um homem temente a Deus, piedoso e herói foi decapitado em Leeuwarden,
porque havia renovado seu batismo. Um outro batismo, pensei, era algo extraordinário que
eu desconhecia. Examinei as Escrituras cuidadosamente e meditei no assunto com
dedicação e não encontrei base para o batismo infantil. Ao fazer esta descoberta comentei o
assunto com meu pastor, e depois de muita conversa, estudamos o tema tão a fundo que ele
teve de admitir que não havia fundamentação bíblica para o batismo de crianças.”
Menno pesquisou em livros e pediu conselho a Lutero, a Bucer e a outros. Cada um
deles apresentou uma razão para o batismo de crianças, mas nenhum deles pôde provar pela
Bíblia.
Por este tempo ele foi transferido para sua vila natal Witmarsum, (em Friesland)
onde continuou a ler a Bíblia, passou a ser admirado e a ter sucesso, mas continuava a viver
de maneira descuidada. “Veja, leitor”, ele continua, “obtive conhecimento do batismo e da
Ceia, pela graça de Deus, pela iluminação do Espírito Santo, depois de ler e meditar na
palavra, e não pela instrumentalidade de seitas errantes, de que sou acusado. Assim se
alguém merece ser agradecido por meu progresso, sempre agradecerei ao Senhor por tudo.
Um ano depois de assumir meu novo posto alguém apareceu por lá pregando o batismo.
Não me lembro quem e nem quando começaram a pregar sobre isto, porque nunca os
encontrei. Então a seita dos Münster surgiu, e através deles muitos corações piedosos foram
enganados. Minha alma se perturbou porque percebi que eram zelosos mas erravam
doutrinariamente. Com meu pequeno dom de pregar e exortar, me opus aos erros o quanto
pude... Todo meu esforço deu em nada porque eu sabia que não estava fazendo o que sabia
ser o correto. A notícia se espalhou de que eu podia calar a boca deste povo, e todos assim
pensavam de mim. Tal situação me deixou angustiado, e eu diante do Senhor orei: ‘Senhor,
ajude-me para que eu não fique carregando os pecados dos outros!’ Minha alma estava
perturbada e pensei que poderia acontecer de eu ganhar o mundo inteiro e, depois de viver
mil anos ouvir de Deus a sentença de ira. Afinal o que teria ganhado?”
“Depois disto estas pobres ovelhas desgarradas, sem verdadeiros pastores, vítimas
de editos cruéis e de tanto morticínio e assassinato se ajuntaram num lugar chamado Oude
Kloster, e alas! Seguindo os ensinamentos errôneos de Münster, contra o Espírito, e contra
a palavra, e sem o exemplo de Cristo, aquele líder desembainhou a espada em sua própria
defesa a qual o Senhor tinha ordenado a Pedro que colocasse na bainha. Quando isto
aconteceu, ainda que estivessem errados, um peso de responsabilidade caiu sobre meus
ombros e não tive mais descanso. Passei a refletir sobre minha vida carnal, meus
ensinamentos hipócritas e a idolatria que se manifestavam em mim diariamente. Eu mesmo
testemunhara como estes zelosos, ainda que não estivessem à frente de toda doutrina,
permitiram que crianças, bens e sangue se perdessem pela convicção de sua fé, e eu era um
dos que ajudou a enumerar as maldades do papismo.
Contudo, continuei a viver na maldade, buscando conforto para minha carne e
evitando encarar a cruz de Cristo. Tais pensamentos se arraigaram em mim a ponto de me
desesperar. Pensei comigo: Desgraçado homem que sou, o que fazer? Se eu continuar a
viver assim depois de conhecer a verdade e não me entregar totalmente ao Senhor; se não
me entregar totalmente ao estudo da palavra de Deus; e não condenar à luz da Palavra de
Deus a hipocrisia dos teólogos, sua forma corrupta de batizar, a ceia, e os falsos cultos, com
os dons que Deus me deu, ainda que poucos, se, com medo de minha carne não expor a
base real da verdade, não poderei, estou certo, guiar essas ovelhas errantes que me acusarão
diante do juízo do Altíssimo que pronunciará o julgamento de minha alma! Meu coração
estremece! Orei a Deus com suspiros de alma e lágrimas pedindo que ele me concedesse os
dons de sua graça, a mim um perdido pecador, pedi a Deus que me desse uma alma pura,
pela obra redentora e pelo derramamento de seu sangue e que me perdoasse por viver uma
vida sem sentido, e que me desse sabedoria, espírito, coragem e heroísmo, para que eu
pregasse sobre o poder de seu nome, de forma genuína, e que minha pregação redundasse
em honras e glória ao seu santíssimo nome.
“Então comecei a pregar, em nome do Senhor e a ensinar publicamente e do púlpito
a palavra de arrependimento, conduzindo o povo pelo caminho estreito, condenando o
pecado e o estilo de vida devasso, bem como toda idolatria, e adoração falsas, testificando
abertamente o sentido verdadeiro do batismo e da ceia conforme os princípios estabelecidos
por Cristo, pela graça que Deus me concedera até aquele momento. Passei a alertar o povo
sobre as perversidades dos irmãos de Münster, seu rei, a poligamia e seu reino defendido
pela espada. E foi assim que, depois de batalhar intensamente nesta direção, depois de nove
meses, o Senhor me encheu do seu Espírito, estendeu-me sua poderosa mão, para que, sem
hesitar e sem compulsão humana eu não me importasse mais em buscar honra, um bom
nome e reputação, coisas que eu tinha entre os homens, deixando para trás o estilo de vida
anticristão que vivera até então.”
“Dispus-me a viver na pobreza e miséria, sob a pesada cruz de nosso Senhor,
temendo a Deus em fraquezas, e saí a buscar as pessoas zelosas pela doutrina – e não
encontrei muitos zelosos. Argumentei com os que se haviam desviado, e ganhei alguns
deles pela graça e poder do Senhor. Os obstinados e duros de coração entreguei ao Senhor.
Veja, meu leitor como a graça de nosso Senhor foi derramada sobre este miserável homem,
pecador, que, depois de aguçar meu coração, deu-me uma nova maneira de pensar,
humilhou-me para andar em sua presença, levou-me a conhecer minha triste realidade,
conduzindo-me do caminho da morte para a estreita senda da vida e me chamou por pura
misericórdia a fazer parte da comunhão dos santos. A ele a glória para sempre! Amem.”
“Um ano depois, enquanto silenciosamente lia e estudava a palavra de Deus, cerca
de oito pessoas me procuraram; eram pessoas de um só coração e alma, que, até onde se
pode julgar viviam na fé, puras, separadas do mundo conforme o testemunho das escrituras,
vivendo sob a cruz; pessoas que estavam horrorizadas com os acontecimentos de Münster,
indignadas com surgimento das seitas malignas que deveriam ser condenadas em todo o
mundo. Essas pessoas me procuraram e me pediram, chorando, que eu tivesse misericórdia
das almas dispersas, pois a fome espiritual era intensa e poucos são os mordomos, e
pediram que eu não usurpasse o que havia recebido do Senhor.”
“Depois de ouvir o que essas oito pessoas tinham a dizer, meu coração se perturbou,
angústia e medo se apoderaram de mim, pois por um lado sabia que tinha poucos dons, que
não aprendia com facilidade, que vivia cheio de temores da carne, que era perverso e estas
coisas me pressionavam bastante. Por outro lado vi a fome espiritual, a falta de pessoas
tementes a Deus, e vi que eram pessoas abandonadas sem pastor. Finalmente me coloquei à
disposição do Senhor e de sua igreja e impus como condição que esses irmãos buscassem
fervorosamente a Deus, comigo, e que, se fosse da vontade de Deus eu seria instrumento de
sua glória. Que a bondade do Pai celestial me desse um coração puro para que eu clamasse
como Paulo: Ai de mim se não pregar o evangelho, do contrário que ele me impedisse de
agir... Veja, leitor, que eu não fui chamado para a obra pelos irmãos de Münster, nem por
outra seita, como caluniam por aí, e, sendo desprezado por essa gente...”.
“Assim eu, um miserável e grande pecador fui iluminado pelo Senhor, me converti
e saí da Babilônia chegando a Jerusalém até se me apresentar esta tarefa nobre e difícil.
Como tais pessoas não desistiam e, impelido pela consciência , vendo a grande necessidade,
entreguei-me totalmente ao Senhor de corpo, alma e espírito, e comecei, naquele tempo
(1537) a ensinar e a batizar conforme o ensino das Escrituras. Com meus poucos dons,
passei. Como Neemias, a edificar seu templo e sua cidade, buscando as pedras espalhadas e
colocando-as no templo de Deus. E conforme a graça do Senhor visitei muitas vilas e
cidades pregando o arrependimento, falando da palavra da graça de Deus, levando o santo
sacramento a poucas ou muitas pessoas que se reuniam em vários lugares. Ele é que faz sua
igreja gloriosa, concedendo-lhe poder; uma igreja que não tem outra arma, que vive em
exílio, perseguida, torturada, queimada como é de hábito a obra da velha serpente; assim,
começamos na Holanda, e, alas! Diariamente labutamos”.
“Veja que este é nosso chamamento e nossa doutrina; estes os frutos do nosso
trabalho, e por isso somos blasfemados e perseguidos como inimigos. Ainda que profetas,
apóstolos e servos fieis a Deus não produzam os mesmos frutos, deixemos que o povo, faça
seu próprio juízo e julgamento. Se o mundo maligno desse ouvidos ao nosso ensinamento, -
que não procede de nós, mas do Senhor, e seguissem a Cristo no temor de Deus, teríamos
outro mundo, diferente deste. Agradeço a Deus que me tem concedido graça para que,
mesmo com derramamento de sangue, meu desejo é que o mundo todo seja atraído dos seus
maus caminhos para Cristo.”
“Espero, portanto, com a ajuda do Senhor, que ninguém me acuse de cobiça ou de
viver na luxúria. Não tenho ouro e prata, nem os ambiciono, ainda que existam pessoas de
coração perverso afirmando que eu como mais bifes no jantar que eles, e que bebo mais
vinho do que eles – que só bebem cerveja... aquele que me vocacionou para a obra sabe que
não aspiro ouro e prata, nem conforto, mas vivo para glorificar a Deus. Nesta base é que
sofro ao lado de minha delicada esposa e de meu filho, enfrentando o medo, pressões,
tristezas, miséria e perseguições, pois nestes últimos dezoito anos tenho vivido com
constante temor, na pobreza, temendo por nossas vidas. Sim, porque enquanto os
pregadores se deitam em leitos confortáveis, nós nos escondemos e nos protegemos nas
sombras das esquinas. Enquanto eles participam alegremente de casamentos, etc. fumando
seus cachimbos, sob o som de flautas e tambores, nós ficamos alerta aos latidos dos
cachorros, porque pode ser que alguém esteja se aproximando para nos prender. Enquanto
os pregadores são saudados como doutores ou mestres, nós nos permitimos ser chamados
de anabatistas, pregadores de ruas, enganadores e heréticos e somos saudados em nome do
diabo. Finalmente, em vez de sermos recompensados, como eles com bons salários, pelos
serviços prestados e recompensados, nossa recompensa é o fogo, a espada e a morte.”
“Veja, meu querido leitor, eu um pobre desgraçado venho trabalhando sem cessar
para o Senhor, vivendo em ansiedade e na pobreza, na tristeza e em perigo de morte,
vagando pelo mundo. Eu e meus companheiros que labutamos neste tempo de dificuldade e
de perigos podemos ser medidos pelos frutos de nossa obra. Meu leitor sincero, por amor a
Jesus, aceite com amor nossa confissão de pecados e nosso testemunho de conversão e tire
suas próprias conclusões. Em todo lugar sou perseguido por pregadores que afirmam que eu
não prego a verdade, como se eu fosse líder de uma seita herética. Os que temem a Deus,
leiam nosso testemunho e julguem!”.
Menno Simon *se dedicou a visitar e a reunir outra vez as igrejas que viviam
espalhadas por causa da perseguição. Foi isso o que fez na Holanda até que em 1543 foi
declarado um fora-da-lei, e um preço foi estipulado por sua captura, e qualquer pessoa que
o acolhesse seria condenado à morte, e qualquer criminoso que o encontrasse e o entregasse
aos executores seria perdoado de seus erros. Obrigado a abandonar os países baixos, depois
de vaguear e de viver em perigos foi acolhido em Fresenburg onde o conde Alefeld o
protegeu; mas não somente foi ele perseguido, mas todos os que com ele andavam. Este
nobre conde sofrendo com os gritos por justiça deste povo sofredor acolheu esses irmãos
bondosamente, e ali não apenas encontraram um local de refúgio, mas também liberdade de
culto, porque havia muitas igrejas se reunindo na vila de Wüstenfelde e nas vilas ao redor.
Em Fresenburg Menno Simon pôde imprimir livremente seus materiais que
circularam por todos os lugares, esclarecendo as pessoas que estavam em posição de
autoridade, abrindo-lhes os olhos, o que contribuiu para amenizar a perseguição e dando
liberdade de culto. Menno morreu em paz em Fresenburg no ano de 1559.
Os imigrantes anabatistas estabeleceram novas empresas em Holstein e prosperaram
trazendo prosperidade ao país até que foram todos dispersos pela Guerra dos Trinta Anos.
Um livreto publicado em 1542 por Pilgram Marbeck jorra bastante luz sobre o
ensinamento dos irmãos. Eles tinham diferenças de opiniões em alguns pontos, mas este
livro mostra o esforço dos irmãos em observar os ensinamentos bíblicos de maneira correta.
Ainda que o autor expresse um ponto de vista extremado da importância de se observar a
vida exterior da igreja, pode-se afirmar que não existe nada de negativo daquilo que se lhes
atribuíam. No título o escritor afirma que o livro tem como objetivo levar conforto a todos
os fiéis, piedosos e comprometidos de coração, mostrando-lhes o que as Escrituras ensinam
sobre o batismo e a ceia do Senhor.
O autor apresenta os textos bíblicos para provar seu ponto de vista aos leitores, e
conclui: “Assim, podendo expressar nossos pensamentos, nosso entendimento, opinião e fé
com respeito ao batismo e a ceia encerraremos com um resumo geral da importância desses
dois temas, e explicando a razão porque foram tão citados. Nosso Senhor Jesus deseja ser
reconhecido, não apenas em sua congregação, mas através dela, para que seu santo nome
seja reconhecido e louvado por todo o mundo. Por isso, Cristo, juntamente com a pregação
do evangelho, instituiu essas duas coisas, o batismo público e a ceia que são elementos que
mantêm pura e santa a parte visível da igreja. Como o tema tem de ser visto à luz da
verdade, podemos afirmar que três coisas são necessárias para a vida de uma assembléia
cristã: a pregação do evangelho, o batismo e a ceia do Senhor. Quando não ocorrem estas
três coisas ou alguma delas não é praticada não é possível manter o testemunho visível da
igreja.”
* Fundamente der Christlichen Lehre u.s.w. Joh Deknatel
1. Pregação do evangelho. “Para que a parte visível da assembléia de Deus seja vista
quando está reunida, para que a assembléia seja iniciada e mantida tem de haver a pregação
do evangelho. A pregação do evangelho é a rede de pesca viva que deve ser lançada sobre
as pessoas que navegam neste mar que é o mundo, e as pessoas são como bestas e por
natureza filhos da ira. Os que são apanhados nesta rede ou pela linha com anzol, isto é, pela
palavra do evangelho, ao serem firmados nele são tirados das trevas para a luz e podem ser
transformados de filhos da ira para filhos de Deus. É a isto que se refere Pedro quando fala
que somos pedras vivas edificadas. Porque a igreja é a reunião de todos os que
verdadeiramente crêem e são filhos de Deus, que louvam e dão testemunho público do seu
nome. Na igreja só há espaço para os fieis, pois entendemos que as pessoas, por natureza
não entendem as coisas divinas e somente pela palavra é que adquirem conhecimento de
Cristo e das escrituras sagradas. Assim, pela pregação do evangelho temos o começo pela
qual todos os homens são reunidos ao redor do conhecimento de Deus e de sua santa igreja.
A fé vem pela pregação da palavra de Deus e os que o aceitam passam a ser contados como
filhos, para só então se tornarem membros da santa igreja...”.
2. O batismo. “A segunda coisa que contribui para a edificação da igreja é o santo
batismo, que é a entrada e a porta para que alguém faça parte da santa igreja, pois de acordo
com a palavra de Deus uma pessoa só faz parte da igreja através do batismo. Portanto para
ser recebido na santa igreja, isto é, na assembléia dos que crêem em Cristo, a pessoa tem de
morrer para o diabo, e deve renunciar o e morrer para o mundo; deve renunciar as coisas
mundanas, crucificar a carne e o orgulho. E deve confessar com seus lábios sua decisão.
Depois de proceder assim ela deve ser batizada no nome de Deus, ou em Jesus Cristo, pois
seu batismo é firmado na confissão do arrependimento e da fé, crendo que está purificado
de seus pecados, para depois andar em obediência a Deus e a Cristo. Eis aí a utilidade do
batismo, porque através dele os crentes podem expressar de maneira visível que estão
aceitando a fé e se unindo à santa igreja...”.
3. A ceia do Senhor. “Quanto a ceia ela pode ser apresentada de duas maneiras.
Primeiramente, toda a assembléia se reúne ao redor da mesa do Senhor, como testemunho
da unidade da fé e do amor de Cristo. Em segundo, para que toda iniqüidade e tudo que não
é santo e puro para Cristo, tudo o que o ofende seja eliminado e cortado (da igreja).”
O escritor deste livreto, Pilgram Marbeck era um engenheiro. Nascido no Tirol ele
realizou importantes obras na região baixa do vale de Inn, e foi condecorado diversas vezes
pelo governo por serviços prestados à comunidade. Não se sabe ao certo quando se uniu aos
irmãos, mas em 1528 sua confissão de fé o fez perder todos os títulos de cidadão emérito.
Foi neste tempo que escreveu: “Criado por pais piedosos no papismo, abandonei ao
(papismo) e passei a pregar o evangelho de Guttenbergue (o evangelho de Lutero). Depois
de descobrir que os luteranos viviam na libertinagem, comecei a duvidar e não mais
encontrei descanso entre os luteranos. Foi então que aceitei ser batizado como sinal de
minha fé e obediência, buscando somente a palavra e os mandamentos de Deus.”
Ele teve que deixar todos os seus bens para fugir com sua esposa e seu filho – seus
bens foram confiscados, mas sua capacidade profissional o ajudava a se manter onde quer
que vivesse. Em Estrasburgo ele enriqueceu a cidade construindo um aqueduto por onde
desciam os troncos de madeira trazidos da Floresta Negra. Seu caráter limpo e seu zelo
espiritual angariaram muitos admiradores, pois havia muitos irmãos e muitos seguidores
dos reformistas. Bucer e Capito foram atraídos pela sinceridade de Pilgram Marbeck e seus
dons espirituais. Por pregar abertamente e sem temor sobre a necessidade da pessoa ser
batizada, atraiu também inimigos. O próprio Bucer se virou contra ele e Marbeck foi preso.
Capito não se envergonhava de visitá-lo na prisão, mas a discussão ia parar no conselho da
cidade de que não era necessário crer no batismo infantil para ser um cristão, e deram a
Pilgram Marbeck quatro semanas para terminar seu projeto e abandonar a cidade em 1532.
O Sectarismo limita a razão e a fé. O coração responde e aceita algumas verdades
ensinadas nas Escrituras acompanhadas da revelação divina, e à medida que as recebemos,
que as expomos, e as defendemos adquirem uma força muito grande sobre nós. Um outro
lado da verdade, outro ponto de vista da revelação – tudo com base nas Escrituras, parece
enfraquecer e até mesmo contraditar a verdade anterior que era aceita, conseqüentemente o
zelo doutrinário leva a balança a pender para um só lado, a ponto de se negar a verdade
anterior. E é assim que, um pouco de revelação aqui e uma parte da Palavra ali contribuem
para formar uma nova seita, ao que parece boa e útil pois leva à prática a verdade divina,
mas limitada e desequilibrada, porque não apresenta toda a verdade, nem tampouco aceita
toda a Escritura. Os membros que aceitam esta nova “revelação” além de serem impedidos
de ver a Escritura por completo, são cortados da comunhão dos santos, e ficam mais
limitados que os demais, pois a viseira doutrinária não lhes permite enxergar a verdade
completa, mas apenas uma fração.
É de se lastimar, com razão, as divisões existentes entre o povo de Deus porque o
fundamental é obscurecido por essas divisões visíveis a olho nu. No entanto, na igreja
existe liberdade de se enfatizar o que se aprende e o que se experimenta, o que é de grande
valia, pois até mesmo os conflitos sectários são resultados do zelo doutrinário de algum
aspecto da verdade, o que leva a uma busca intensa pelas Escrituras e a descoberta de novos
tesouros. Agora, quando essas coisas põem em perigo o amor, o prejuízo é enorme. Por
outro lado, pior que a luta sectária é quando se quer manter a uniformidade ao custo da
liberdade, ou quando os irmãos se reúnem movidos pela indiferença.
Um edito do Duque Johann de Cleve, Julich, Berg e Marcos, dizia assim: *
“Sabendo-se de antemão o que fazer com os anabatistas... juntamente com o arcebispo de
Colônia queremos anunciar, através deste edito que ninguém deve ser desculpado alegando
falta de conhecimento. A partir de hoje toda pessoa que se batizar de novo, e todo o que
ensinar que o batismo infantil não tem valor algum seja punido com morte... e também todo
o que afirmar ou ensinar que no sacramento o sangue e o corpo de nosso Senhor Jesus
Cristo não estão presentes, mas apenas figurativamente ou em memória... não seja mais
aceito na cidade, mas banido de nosso principado, e se depois de três dias ainda ficarem na
cidade sejam punidos de morte... recebendo o mesmo tratamento reservado aos
anabatistas”. Foram encontrados registros que relatam as mortes por fogueira, afogamento e
decapitação que se seguiram àqueles dias.
Em Colônia a congregação continuou a se reunir secretamente numa casa junto ao
muro que tinha duas entradas, para que os irmãos pudessem escapar caso fossem
descobertos e presos. Em 1556 Thomas Drucker Von Imbroek um mestre habilidoso e
piedoso de apenas 25 anos de idade foi levado como prisioneiro de torre em torre,
torturado, e, por fim foi decapitado. Algumas de suas cartas e vários de seus hinos foram
escritos na prisão, e sua confissão de fé foi impressa e circulou entre os irmãos, o que
ajudou a divulgar a verdade. Sua esposa lhe escreveu uma carta em forma de verso quando
ele estava na prisão: “Querido amigo, mantenha-se agarrado à pura verdade; não fique
aterrorizado porque você sabe a importância dos votos que fez; aceite a cruz, pois o próprio
Cristo e os santos apóstolos passaram por tudo isto”. A igreja de Colônia não se intimidou
* Geschichte des Christlichen Lebens in der rheinisch-westphälischen evangelischen Kirche, Max Goebel
com a morte de Drucker. Em 1561 mais três irmãos morreram afogados; no ano seguinte
dois deles foram presos sendo que um morreu afogado e o outro na hora da morte foi
banido, censurado e desterrado.
As reuniões continuaram até 1566 quando um dos membros traiu o grupo. A casa
foi sitiada e todos foram feitos prisioneiros. Anotaram seus nomes e eles foram espalhados
por diversas prisões. Matthias Zerfass, espontaneamente se declarou líder e mestre do
grupo, não vacilou diante da tortura e depois foi decapitado. Da prisão ele escreveu: “Eles
me torturaram para que eu denunciasse quem eram os guias e mestres e revelasse seus
nomes e endereços... eu deveria concordar que as autoridades eram cristãs e afirmar que
concordava com o batismo de crianças. Apertei os lábios, me entreguei a Deus, sofri
pacientemente e me lembrei das palavras do Senhor quando ele disse: ‘Maior amor não
existe do que alguém dar a sua vida a favor de seus amigos. Vocês são meus amigos se
fizerem o que lhes mando fazer’. Ao que parece ainda vou sofrer muito, mas estou nas
mãos do Senhor, e minha única oração é que a vontade dele seja feita”.
Não obstante em 1534 o bispo de Münster escreveu ao Papa testemunhando a favor
do estilo de vida dos anabatistas.
Hermann V arcebispo de Colônia (1472-1552) percebeu a necessidade de reforma
na Igreja Romana e fez de tudo para mudar a igreja. Ele era Conde de Weied e Runkel e
eleitor do Império. Aos quinze anos de idade foi eleito Deão de Colônia e mais tarde
arcebispo. Era um sujeito bom e liberal, amado por seus seguidores mas não se interessava
pela teologia e pelo latim. Opunha-se a Reforma e queimava as obras de Lutero, e sua corte
espiritual condenou dois habitantes de Colônia ao martírio. No entanto ele notava que o
povo era ignorante e supersticioso e que a igreja estava nas mãos de um clero ignorante e
ausente do povo. Ele notava que a ceia do Senhor não era levada a sério e que os membros
do clero não seguiam as regras canônicas. Em consultas feitas com os melhores oficiais da
igreja católica ele tentava realizar uma reforma seguindo as idéias de Erasmo. Diante do
fracasso desta sua tentativa ele tentou realizar uma reforma evangélica na igreja com a
ajuda de Bucer e de Melanchthon, mas a oposição do clero e da universidade de Colônia, e
de Canisius um jesuíta ferrenho frustrou seus esforços. Sem apoio para suas reformas ele
renunciou o cargo de arcebispo e se retirou para seu Estado.
Um dos que permaneceu distante da igreja romana e também de Lutero e dos
reformadores, mas que não se uniu aos chamados anabatistas foi o nobre da Silésia, Kaspar
Von Schwenckfeld (1489-1561) homem influente em seu país e no exterior. * Comerciante
que negociava com as pequenas cortes alemãs, até os trinta anos de idade não se interessava
em ler as Escrituras, até que foi tocado pelas mensagens de Martinho Lutero, “A
maravilhosa trombeta de Deus”, e foi visitado por Deus tornando-se a “alma” da reforma na
Silésia. Mas, não demorou muito tempo para que Schwenckfeld começasse a fazer severas
críticas a Lutero, especialmente com respeito a doutrina da ceia do Senhor. Por causa disto
Lutero o atacou violentamente usando de sua autoridade para tratá-lo como intrometido e
herético. Schwenckfeld, no entanto, sempre reconhecia publicamente a influência de Lutero
em sua vida espiritual, e depois de sofrer durante anos as perseguições do próprio Lutero e
dos luteranos ele deu sua opinião aos que conheciam seu dilema: “Oremos a Deus por eles,
com fidelidade, porque chegará o dia em que eles, e todos nós, reconheceremos nossa
ignorância na presença do Mestre, Jesus Cristo”.
Sua maior alegria era o estudo das Escrituras. Ele entendeu que se lesse quatro
* Schwencfeld, Luther um der Gedanke einer Apostolischen Reformation, Karl Ecke.
capítulos por dia poderia ler a Bíblia inteira durante o ano, e a princípio fez disto uma regra
para si mesmo, mas decidiu deixar que o Espírito Santo o dirigisse em suas leituras e não se
obrigou a uma certa quantidade, mas ficou livre para ler o que o Espírito lhe conduzisse ler.
Ele afirmou: “Cristo é a completude de toda a Bíblia e o objetivo principal das Escrituras é
nos levar a conhecer o Senhor Jesus Cristo”. A fé, a inspiração e a veracidade da Bíblia não
se tornaram um dogma para ele, mas a descoberta de possibilidades ilimitadas; A Bíblia
não era apenas uma superstição antiga, mas um livro que lhe dava progresso espiritual. Ele
descreveu sua leitura da Bíblia como “uma alegria de novas descobertas, na qual meditava
diariamente e sobre a qual pensava a todo momento”. “Porque nela existe um tesouro
oculto que nos espera, como um baú de puras pérolas, ouro e pedras preciosas”.
Uma regra “segura” para o expositor, diz ele, “onde existem passagens discutíveis, é
que todo o contexto deve ser estudado, pois a Escritura é luz para si mesma, e passagens
isoladas quando trazidas para o todo, devem ser comparadas, ainda que apareçam na Bíblia
uma única vez, para se saber por que estão na Bíblia”. Ele se aprofundou no estudo do
hebraico e do grego, e escrevia baseado na tradução da Bíblia feita por Lutero, mas também
da “velha Bíblia” que era usada pelos anabatistas (muito antes de Lutero) e pela Vulgata.
Ele descobriu a chave para entender o Antigo Testamento estudando o Novo. Ele decidiu
que se deixaria guiar pelas doutrinas e pela prática das Escrituras, “e se não entendermos
tudo não devemos pôr a culpa na Bíblia, mas em nossa ignorância”.
Oito anos depois de haver sido visitado por Deus pela primeira vez, ele teve uma
nova experiência que afetou sua vida para sempre. Até então estava comprometido com a
pregação da palavra e com o luteranismo, e agora, o que acreditava intelectualmente passou
a ser acreditado de coração. Passou a ter certeza de seu chamamento, a ter certeza de sua
salvação, e se entregou a Cristo como sacrifício vivo e agradável. Apoderou-se dele um
profundo sentimento de pecado, e também da suficiência da obra redentora de Cristo por
sua morte e ressurreição. Esta convicção tomou conta de sua alma, transformou sua mente e
o fez caminhar pelo caminho da obediência, pela liberdade encontrada na vontade de Deus.
Descobriu que as Escrituras não apenas nos guiam à santificação e justificação
pessoal, mas que contêm todas as instruções que uma pessoa precisa saber com respeito a
igreja. Ele afirmou: “Se quisermos reformar a igreja, temos que depender do Espírito Santo
e especialmente do livro dos Atos dos apóstolos, porque ali vemos como tudo aconteceu no
início, o certo e errado, e o que é ou não aceitável diante de Deus e do Senhor Jesus.” Ele
notou que a igreja dos tempos apostólicos e seus sucessores imediatos se constituía de
irmãos que se reuniam gloriosamente, não apenas num local, mas em muitos. E se pergunta
onde encontraria aquele tipo de assembléias nos dias de hoje. “As Escrituras só incluem (no
corpo) aqueles que reconhecem ser Cristo o cabeça e os que voluntariamente se submetem
ao Espírito Santo como guia, que os adorna com dons e conhecimentos espirituais.”
O Senhor Jesus, através dos dons espirituais dirige as pessoas individualmente e
também toda a assembléia dos santos. Nas reuniões da assembléia os dons espirituais são
manifestos para proveito de todos; porque o mesmo Espírito distribui os dons que são
manifestados e distribuídos a cada membro do corpo como ele quer. O Espírito tem essa
grande liberdade! Quando alguém, guiado pelo Espírito se põe a falar, a pessoa que estava
falando se cala. As igrejas não são perfeitas, e é possível que alguns hipócritas consigam
esconder sua desfaçatez, mas quando descobertos devem ser excluídos. Schwenckfeld não
podia, portanto, reconhecer a religião reformada estatal como Igreja (Luterana), porque a
grande maioria dos irmãos não tinham o Espírito de Cristo, e participavam dos sacramentos
sem a graça de Deus. Dispôs-se a receber ajuda de organizações missionárias, desde que
não tomassem o lugar das igrejas de Cristo.
“Está claro e evidente”, disse depois, “que todos os crentes são chamados para
glorificar o Senhor Jesus Cristo, anunciando suas virtudes e confessando seu nome diante
dos homens.”. Quaisquer restrições ao sacerdócio universal de todos os santos limita a
ação do Espírito Santo. “Se nos dias de Paulo agissem como hoje, e somente os indicados
pelos magistrados pregassem o evangelho, até onde o evangelho teria chegado? Até que
ponto o evangelho teria nos alcançado?”. Alguns são escolhidos dentre os crentes para uma
obra especial, e se encaixam no ofício a que são designados, mas não pelo estudo, eleição
ou ordenação, mas pela confiança , revelação e manifestação do Espírito, “para que Cristo
evidencie através deles sua graça, seu poder, sua vida e bênçãos”. Já que “são chamados e
enviados unicamente por Deus, na graça operante de Cristo, agem no poder e na certeza do
Espírito Santo. São pessoas nascidas de novo, de corações renovados que edificam o reino
de Cristo.”
Schwenckfeld afirmava que o batismo não salva e que para ser salva uma pessoa
não precisava ser batizada, mas ao mesmo tempo ensinava que depois de se fazer confissão
pública a pessoa deveria ser batizada e que crianças de berço não têm fé, portanto não
devem ser batizadas.
Os ensinamentos de Schwenckfeld chamaram a atenção do rei Ferdinando que o
acusou de desprezar a ceia do Senhor e foi obrigado (1529) a deixar sua terra natal onde era
muito estimado. Os próximos trinta anos de sua vida Schwenckfeld viveu errante,
perseguido pela igreja luterana, que o declarou herético, o que não impediu o surgimento de
novos grupos que concordavam com seu ensinamento, especialmente no sul da Alemanha,
onde alguns dos príncipes o protegiam.
Nota do tradutor: Como o leitor pôde perceber, os Irmãos que diziam manter a fé
apostólica desde a época do apóstolo Paulo, foram revigorados através de Pedro Waldo
(1160), e, além de permanecerem fieis nos vales e montes da Itália e da Suíça, foram
revigorados com a pregação de Wycliff, na Universidade de Oxford onde seus seguidores
foram chamados de lolardos; depois chamados de hussitas, devido a John Hus, anabatistas,
apelido que ganharam dos reformistas, e menonitas, devido a Menno Simon. Como o leitor
pôde perceber, a igreja evangélica passou ao largo da Reforma de Lutero, o que implica
dizer que os evangélicos não são reformistas, mas guardiões da herança apostólica.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Igreja. Uma realidade Visível

IGREJA
Uma realidade Visivel
2ª Edição.

Por Oséias de Lima Vieira

Introdução

A Igreja encaixa-se no plano geral de Deus para unir todas as coisas em Jesus Cristo. É o povo que Deus está formando e por meio do qual ele tem agido na história. Nesse sentido a igreja tem raízes que retrocedem ao antigo testamento, antes mesmo da queda da humanidade. Sua missão estende-se para além de toda a história remanescente e para a eternidade.
Sua história é a dimensão histórica da igreja.
Mas ela tem também uma dimensão universal. Este mundo de espaço e tempo é realmente parte de um universo maior, espiritual, no qual Deus Reina. A igreja é o corpo dado a Cristo o Salvador vitorioso. Deus escolheu colocar a igreja com Cristo no próprio centro de seu plano de reconciliar o mundo consigo.
A missão da Igreja, portanto, é glorificar a Deus executando no mundo as obras do Reino que Jesus iniciou. Isso lhe concede o serviço mais amplo de continuar o ministério que Jesus tinha de “evangelizar aos pobres, apregoar liberdade aos cativos, dar vistas aos cegos, por liberdade os oprimidos, e anunciar o ano aceitável do Senhor”.

O que é ser igreja?
A Bíblia refere à igreja em uma variedade de maneiras. Primeiro e principalmente, ela é o corpo de Cristo.É a noiva de Cristo, o rebanho de Deus, o templo vivo do Espírito Santo de Deus.
Praticamente todas as imagens bíblicas da igreja sugerem um relacionamento essencial e vivo de amor entre Jesus Cristo e ela.
A igreja é uma comunidade de adoração (Gr.Latreia). Precisamos confirmar nossos compromissos com o culto púbico e examinar nossa atitude com relação a ele, como sacerdote neotestamentários é nosso privilégio e responsabilidade, ao nos reunirmos toda semana , levar a Deus uma oferta de louvor (Hebreus 13.15) Por ele, pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.
. A adoração aparece freqüentemente nas escrituras, mas de maneira suprema nos salmos, o hinário da igreja judaica. O novo testamento contém muitas expressões da prática da adoração (Mt.6.9; Mc 14:12 At. 3:1 etc.)
A igreja é uma comunidade criada para a comunhão em Cristo (Gr. Koinõnia), A comunhão entre as pessoas e a glorificação de Deus pela igreja acham-se intimamente ligadas, “Portanto acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus”. Koinõnia significa essencialmente participar em algo. A comunhão do novo testamento envolvia a prática da hospitalidade (hebreus 13; 2 1pedro 4;9) . A harmoniosa vida comunitária dos primeiros cristãos constituiu a maior atração da fé para os pagãos da época.
A igreja tem certamente poucas coisas de maior relevância imediata a oferecer ao mundo do que o segredo de um relacionamento humano autêntico. O chamado para experimentar a ágape, portanto, representa um dos desafios mais profundos feito por Cristo à sua igreja..
A igreja é uma comunidade de serviço,(Gr.Diakonia) onde nos identificamos com o nosso dom ou dons concedido pelo Espírito de Deus. A primeira igreja tinha o serviço como mais um meio de dar glória a Deus (1 Pedro 2;12) De modo diferente do mundo gentio, onde a proeminência se associava à autoridade e ao poder coercitivo, Jesus ensinou que ser grande é prestar-se ao serviço humilde (Mc 9:33-37, Lu 22:24-27). O serviço não é o caminho nem a condição para a grandeza , como geralmente supomos ; eles são, antes , a grandeza propriamente dita . Por trás disso acha-se o próprio Jesus .
O ensino Bíblico sobre o ministério da igreja (Diakonia) possui mais três aspectos.
· Os dons do Espírito
Todas as principais passagens do Novo Testamento que tratam deste tema afirmam que um dom ou dons do Espírito é propriamente de todo homem ou mulher verdadeiramente regenerado (Rm 12:3, 1Co 12:7-11, Ef 4:7,16 1Pe 4:10) Cada membro tem uma função no todo. Todo cristão é chamado para ministrar; ser um membro de Cristo é ser ministro de Cristo (1co 12:7,11)
Ministério Especializado
Este é um tipo de dom do Espírito (Gn14:18, Dt 18:15, Êx 3:16), Jesus aplicou este princípio chamando os doze discípulos, e o novo testamento reflete mais tarde este mesmo padrão de nomear anciãos (Presbyteroi) ou bispos (episkopoi), diáconos (diakonoi) (At 14;23, 1Tm 3:1-3, Tt1:5) e os evangelistas, pastores e mestres * Profetas e Apóstolos. (Ef 4:11)
Os vários tipos de ministérios não implicam que a vida Cristã tenha dois níveis, correspondendo a líderes e o povo. A distinção entre ministério especializado e leigo (Gr. Laos = povo) é essencialmente funcional. Os que trabalham em tempo integral, qualquer que seja o seu título, não estão acima dos outros, nem mais próximo de Deus, nem são mais importante do que os membros de sua igreja.
·O ministério fora da igreja
O serviço oferecido pela igreja é dirigido primeiramente aos que fazem parte da irmandade da fé (Gl6:10) . O serviço de Jesus em seu sentido mais profundo foi oferecido em favor dos seus inimigos (Rm 5:6-8) . A igreja deve pois, Glorificar a Deus sendo o sal e a luz da sociedade (Mt 5:16) não simplesmente através da evangelização, mas também pelo seu esforço em influenciar a sociedade mediante um estilo de vida mais justo, mais puro, mais honesto e mais compassivo, um reflexo mais perfeito do caráter de Deus e, portanto que honra o seu nome.
A principal maneira de a igreja cumprir esta responsabilidade, à parte de seu testemunho evangelístico direto, é criar homens e mulheres de caráter cristão forte e robusto, cuja atuação diária influencie as características e qualidade da sociedade. Além disso,há ocasiões em que a igreja pode sentir a necessidade de agir como comunidade em resposta as necessidades sociais.
A igreja é uma comunidade de testemunho (Gr.Martyria), ser testemunha fiel e eficaz de Cristo entre meus visinhos, colegas de trabalho, de escola, ou onde quer que o Senhor tenha me colocado.
O chamado para testemunhar é o centro das instruções finais de Jesus aos apóstolos (At 1:8).
A tarefa de dar testemunho do evangelho ao mundo inteiro recai sobre a igreja em cada geração. É algo que jamais poderia ser relegada a um plano secundário.
A igreja é um organismo e não uma instituição; ela é uma realidade viva e crescente. Uma igreja sadia, em crescimento, será abençoada com conversões a Cristo e uma crescente semelhança com cristo. A fim de promover o crescimento da igreja segundo a imagem divina
A igreja como nós a vemos
A igreja como nós a vemos e experimentamos pode ser pouco atraente seja no cenário eclesiástico, seja em nossa comunidade cristã local. Teremos às vezes dificuldade em distinguir nela qualquer semelhança com cristo.
Devemos, porém, resistir à tentação de nos desesperarmos ou desiludirmos, com a igreja visível. Apesar de toda a sua fraqueza presente, a igreja está destinada a tornar-se gloriosa e bela.
Precisamos às vezes olhar deliberadamente para além das realidades imediatas e lembrar de sonhar com a vinda da grande Igreja, o povo aperfeiçoado de Deus, sua noiva imaculada, que será apresentada ao noivo celestial quando Ele vier.
Essa visão irá fortalecer nossa decisão de investir tempo e recurso, de dirigir energias e orações e de trabalhar através dos anos a fim de ajudar a transformar mais plenamente o corpo de Cristo.
A esfera de atuação da igreja
A missão da igreja consiste em percorrer o mundo todo para pregar o evangelho a toda criatura (cf. Mc 16.15). Em Atos 1.8 Jesus especifica a missão global da igreja dizendo que ela deveria testemunhar "...tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra". A expressão "tanto...como" de Atos 1.8 é formada, no grego, pela partícula enclítica te mais a conjunção kai. Em grego "tanto...como" equivale ao nosso adjetivo comparativo e sugere, em Atos 1.8, simultaneidade de trabalho; isto é, Jesus não estava dizendo simplesmente que a Sua igreja precisava escolher uma dessas áreas geográficas para trabalhar ou que deveria começar por uma de cada vez. Pelo contrário, a idéia bíblica do termo aqui é: atuar ao mesmo tempo em todos os lugares da terra.
Infelizmente, hoje em dia não são poucos os crentes equivocados quanto à compreensão da ordem do Mestre. Quantas vezes já não ouvimos indagações mais ou menos assim: "Por que mandar ou sustentar missionários no estrangeiro se tem tanto o que fazer no Brasil?". Como sabemos, a maioria dos que pensam assim não está preocupada com a obra missionária nem mesmo no seu próprio país. Jesus ordena que o trabalho missionário da igreja seja te...kai, isto é, temos que evangelizar lá sem esquecer de cá e vice-versa.
Uma aplicação contextualizada das regiões citadas por Jesus fica por conta da nossa imaginação, mas sem, evidentemente, deturpar o texto bíblico. Jerusalém foi o berço dos acontecimentos básicos do cristianismo. Boa parte do ministério de Jesus ocorreu em Jerusalém.
Nela Jesus morreu, ressuscitou e ordenou a evangelização do mundo. Nela Jesus prometeu o Espírito Santo e nela, no dia de Pentecostes, a igreja cristã foi inaugurada 1 e habilitada para cumprir a Grande Comissão. Para efeito de comparação e aplicação da ordem de Jesus, podemos identificar Jerusalém com a cidade em que moramos. A Judéia, por sua vez, era a província que tinha Jerusalém como capital. Supomos que a nossa Judéia seja o estado onde estamos vivendo. Samaria era uma região mais afastada, situada ao norte da Judéia. Poderíamos comparar Samaria ao nosso paísl? Os confins da terra significam, naturalmente, que devemos ser testemunhas de Jesus para todos os povos. Atualmente sabe-se que "os confins da terra" de Atos 1.8 é mais que "universalidade concebida de forma geográfica". É geografia sim mas também é etnia. A missão da igreja contemporânea é mais do que missão estrangeira, é missão transcultural que envolve, por exemplo, os índios do Brasil.
Nós na igreja
Uma vez que a igreja é o povo (laos) de Deus compreende todas as pessoas de Deus em todas as nações, mesmo as que agora cruzaram as fronteiras do espaço e do tempo e vivem na presença imediata de Deus. Mas o povo deve ter uma expressão visível, local, em que as pessoas se reúnem em uma comunidade. Nesse nível local a igreja é a comunidade do Espírito Santo.
As figuras bíblicas de o corpo de Cristo, noiva de Cristo, família, templo ou videira
A Igreja são pessoas e não uma estrutura como muitos teólogos céticos pensam, A igreja tem uma natureza coletiva ou comunitária absolutamente essencial ao verdadeiro ser.
Não é simplesmente um grupo de indivíduos isolados. Segundo Stanley2 (1999) a igreja tem que ser visível, uma organização que abarca todos os batizados das congregações locais, que inclui todos os crentes verdadeiros .
“Vista como povo de Deus” a igreja é a realidade abrangente, mundial, coletiva da multidão de homens e mulheres que através da história, foram reconciliados com Deus e uns com os outros em Jesus Cristo. Deus tem-se movido na história para reunir um povo peregrino.
O que a igreja tem e o que não tem para ser igreja
A igreja será apenas uma instituição humana se não tiver a visão de Jesus Cristo para o contexto e a realidade histórica na qual está inserida.
Falar dos objetivos da igreja em contraposição as megatendências da pós-modernidade e o modismo quanto à quebra de paradigmas que resultam na perda da identidade doutrinária, do mundanismo que gera a mundanalidade na igreja pela relativização da ética cristã, arrefecendo a autoridade da igreja em sua ação reformadora no mundo, Efésios 3.10.
A igreja deve interagir na história, não andar a reboque da historieta escrita nos livro desta geração corrompida e perversa. Somos o povo do Deus que é Senhor da história e que se manifesta através da história. A igreja é manifestação de Deus na história. Não podemos nos contentar em causar impacto na história com os nossos escândalos ou com a nossa inércia contemplativa enquanto o céu não vem. É imperativo fazermos diferença no mundo, escrevendo a história da salvação na vida das pessoas e para isto, é imperioso resgatarmos a relevância da igreja no contexto sociocultural em que trilhamos a jornada da santificação.
Mas amados, a igreja só será relevante para o mundo e para o Reino, fazendo verdadeira diferença neste mundo com Agência reformadora de Deus, quando...
Estivermos preocupados com a vontade do Mestre e não com a nossa própria vontade.
"Onde queres" – Théleis, vontade ativa, soberana. A vontade decisiva e decisória de Deus onde não cabe relativização ou negociata, apenas a submissão.
Os anseios e vontades humanas desembocam sempre no hedonismo ou nas guerras cruentas e desumanas. Só à vontade de Deus para a igreja é "boa, agradável e perfeita", Romanos 12.1.
Como Jesus, devemos admitir nossa humanidade em sua plenitude, mas sempre orando: "não se faça a minha vontade, mas a tua", Lucas 22.42.
O tempo da Deus é kairós, eterno, infinito, e não kronos, limitado, mensurado e controlado pelo homem, como se fossemos senhores do tempo.
Na dispensação da igreja, da graça salvadora, o tempo é sempre presente, é hoje, e a pregação deve ser levada a efeito "a tempo e fora de tempo", 2 Timóteo 4.2.
Vale ressaltar a expressão "o Mestre diz". Mestre, didáskalos, alguém que ensina revestido de capacidade, honra e dignidade. Jesus, sendo Deus, é Senhor do tempo e fala com autoridade quanto à concisão do tempo para a pregação do evangelho. "Meu tempo está próximo", diz o Mestre.
A Igreja não pode desprezar a pregação. Não sabemos quando o Mestre voltará, Mateus 25.13. Estar preparados para adentrarmos com ele em sua glória implica em testemunho e pregação incessantes.
Nossos cultos se tornarem verdadeira celebração ao Cristo vivo, não à liturgia, à Denominação ou a Eclesiologia .
É autoritário buscarmos a consciência de libertação, Páscoa, e de celebração, de festa, de alegria e satisfação em nossos cultos, devido à presença do próprio Deus entre nós.
O texto não prevê sectarismo ou uniformidade. Não induz ao radicalismo ou ao êxtase emocional espiritualista esotericamente espiritualizado. Se quiser, o texto aponta para um denominacionalismo desvairado e promotor de uma nefasta negligência ao que é bíblico em defesa de um hediondo tradicionalismo histórico-denominacional.
A festa, a Páscoa, era um memorial da libertação do Egito, da morte as mãos do opressor, no sangue da remissão, Êxodo 12.14-17. Da mesma forma, nossos cultos devem ser verdadeira celebração pela e para salvação em Cristo. Uma festa alegre e vívida em gratidão pela libertação do pecado que nos é outorgada por Cristo.
Devemos buscar a consciência de que o Senhor está em seu trono de glória para receber de nós um culto “vivo, santo e agradável”, Romano 12.1, resultado de mentes renovadas em Cristo no entendimento dos mistérios da salvação, 1 Coríntios 2.14-16.
Qual a nossa reação diante da expressão "um de vós me trairá". Somos assolados pela consciência de pecado que desemboca no arrependimento ou permanecemos insensíveis e nada nos impulsiona à santidade?
É assombroso que muitos crentes não sintam o sabor amargo de pecado como sentiram Moisés, Jacó, Isaías, Jeremias, Pedro, Paulo e muitos outros indicados no Texto Sagrado, insistindo nos passos de Caim e na decisão diabólica tomada por Judas Iscariotes, persistindo na traição.
Muitos, mesmo estando diante de Jesus e sendo desafiados ao arrependimento, não conseguem olhar para Jesus e identificá-lo com Senhor absoluto de todas as coisas, Kírios, admitindo-o apenas como rabi, mestre da lei, o que não é uma característica da personalidade de Jesus.
No culto verdadeiro Deus sempre manifesta sua glória, Isaías 6.1-8, e se nos dispomos à perfeita adoração, sempre somos levados à contrição e ao arrependimento, a fim de que dediquemos nossas vidas em perfeito louvor, evidenciado na proclamação do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Retirar-se do culto sem experimentar restauração santificadora, permanecendo na inércia petrificada do comodismo, é constituir-se em traidor.
Como igreja, se buscamos grande valor para a sociedade, se pretendemos fazer a diferença já em nosso tempo, profetizando um futuro melhor, não podemos permanecer aguilhoados ao pelourinho do pecado e dissociados pelo preconceito que ressalta as idiossincrasias. Se somos igreja, devemos vivenciar íntima comunhão, irmanados em Jesus Cristo , Efésios 2.14-18 e 1 João 4.20. O sangue do pacto foi derramado "para a remissão de pecados", para cobrir e apagar o escrito de culpa que recaia sobre nós, Colossenses 2.14, para nos reconciliar com Deus, 2 Coríntios 5.18 e 19, fazendo-nos um só povo, Efésios 4.4 e conjugando-nos em só coração, Atos 4.32 O sangue que "nos purifica de todo o pecado", a partir do arrependimento e da confissão sincera diante de nosso Advogado e único mediador, Jesus Cristo, l João 1.8, 2.2 e 1 Timóteo 2.5, nos impõe a comunhão que afaga o coração e acarinha o aflito e o existencialmente desesperançado. Pelo que, a igreja deve retirar-se do templo, após o culto prestado, restaurado, perdoado, transbordando em amor e alegria e amalgamada no sangue de Jesus Cristo.
Todo o nosso pecado e preconceito devem ser abandonados aos pés da cruz de Cristo, o Cristo que "é tudo em todos", Colossenses 3.11.
Igreja Verdadeira
Onde podem ser encontradas hoje a igreja verdadeira e quais os seus aspectos essenciais? Em primeiro lugar devemos distinguir os vários significados da palavra igreja: todo o povo de Deus em todos os séculos, o conjunto total dos eleitos. Os Reformadores falaram disto como sendo a igreja invisível. A comunidade local dos cristãos, reunidos visivelmente para adoração e ministério; este significado abrange a vasta maioria das referências à igreja (ekklesia) do Novo Testamento. Todo o povo de Deus no mundo, em determinada época, talvez melhor definida como a igreja universa3 ! Esse sentido ocorre apenas ocasionalmente no Novo Testamento (1 Co 10.32; Gl 1.13).
"A igreja dentro da igreja". Notamos antes a distinção feita entre a edah (toda a congregação visível) e os gahal (aqueles dentro dela que respondem ao chamado de Deus). Jesus ensinou que o reino corresponde a este padrão: o joio está misturado com o trigo (Mt 13.24-30; 36-43). Dentro do grupo identificado com Cristo acha-se o povo de Deus, a verdadeira igreja. Não existe, então, uma igreja pura; em meio a cada igreja pode haver pessoas que não professaram a sua fé e outras cuja profissão será desmascarada no último dia (Mt 7.21-23).
Admitindo-se assim que uma igreja pura ou perfeita não é possível deste lado da glória, o­nde podemos descobrir o verdadeiro povo de Deus visivelmente reunido? Tradicionalmente, são reconhecidos quatro sinais da igreja autêntica.
Uma das Características da Igreja é ser apostólica, mas existe apostolo Hoje?
APOSTÓLICAO apóstolo é uma testemunha do ministério e da ressurreição de Jesus; é um arauto autorizado do evangelho (Lc 6.12s; At 1.21s; 1 Co 15.8-10). Os arautos tomam posição entre Jesus e todas as gerações subseqüentes da fé cristã; nós só nos achegamos a ele por meio dos apóstolos e de seu testemunho sobre ele, incorporado no Novo Testamento. Neste sentido fundamental, toda a igreja é "edificada sobre o fundamento dos apóstolos" (Ef 2.20; cf. Mt 16.18; Ap 21.14). A apostolicidade da igreja encontra-se, portanto, no fato de ela conformar-se à fé apostólica "que uma vez por todas foi entregue ao santos" (Jd 3; cf. At 2.42). Os apóstolos ainda governam e organizam a igreja na medida em que esta permite que sua vida, seu entendimento e sua pregação sejam constantemente reformados pelos ensinos das Sagradas Escrituras. Desde que o apóstolo significa literalmente enviado,( )(apostolos) não é de surpreende que o Novo Testamento refira-se ocasionalmente a outros apóstolos (Rm 16.7). Neste sentido geral, todos os que são hoje enviados pelo Senhor como evangelistas, pregadores, iniciadores de igrejas, etc. são no grego do Novo Testamento, apostoloi, enviados. Isto não subentende de forma alguma que eles tenham uma posição de autoridade especial, competindo com a do grupo original cujo governo continua através das escrituras apostólicas. Reivindicar o cargo apostólico em nossos dias é compreender erradamente o ensino bíblico e oferece na prática um desafio grave com respeito à autoridade e finalidade da revelação divina do Novo Testamento.
É igualmente errado entender a apostolicidade como uma continuidade histórica do ministério, retrocedendo até Cristo e seus apóstolos através de uma sucessão de bispos. Esta interpretação não tem nenhum apoio bíblico. Toda noção da graça de Deus comunicada mediante uma sucessão histórica de dignatários da igreja contraria o caráter da própria graça, conforme os escritos bíblicos. Além disso, como garantia da verdade da mensagem apostólica, a sucessão episcopal evidentemente falhou. Foi uma igreja perfeitamente enquadrada nesta sucessão histórica que precisou da Reforma do século dezesseis, para não mencionar outras reformas menores, como o despertamento do século dezoito com Whitefield e os Wesleys.
O catolicismo romano estende esta interpretação de "apostólico" para incluir a reivindicação de que o Bispo de Roma é o sucessor histórico de Pedro e o guardião especial da graça de Deus na igreja.
A alegação é insustentável. A primazia de Pedro entre os apóstolos não passou de uma clara liderança no período da primeira missão cristã. Ele claramente recuou para um segundo plano à medida que a igreja avançou fora de Jerusalém, sendo Paulo nomeado para liderar a missão fora de Jesuralém e quando João lutava para corrigir as igrejas prejudicadas pelos falsos mestres. É bem significante que Pedro não apareceu no papel principal no Concílio de Jerusalém (At 15), e que ficou claramente à sombra de Paulo no incidente registrado em Gálatas2.
Roma alega ainda que esta suposta supremacia de Pedro deveria continuar para a salvação eterna e bem contínuo da igreja. Nenhum dos versículos citados como apoio escriturístico (Mt 16.18s; Jo 21.15-17 e Lc 22.32) faz qualquer referência a um sucessor de Pedro. Essas duas reivindicações romanas contrariam a evidência manifesta no Novo Testamento, e a terceira, de que a primazia de Pedro se estende ao bispo de Roma, é ainda menos digna de crédito. O fato de Pedro ter terminado sua vida como mártir em Roma é uma tradição primitiva que encontra apoio razoável; as dificuldades históricas, porém, para mostrar que houve uma sucessão estabelecida de bispos monárquicos de Roma, a partir do primeiro século, são intransponíveis.
A sucessão apostólica é na verdade a sucessão do evangelho apostólico, quando o depósito original de verdade apostólica é passado de uma para outra geração: "homens fiéis... para instruir a outros" (2 Tm 2.2). A igreja é apostólica à medida que reconhece na prática a autoridade suprema das escrituras apostólicas.
CATÓLICA
O termo católico significa literalmente abrangendo ao todo. E em seu uso primitivo, significava ser a igreja universal, distinguindo-a da local; mais tarde, veio significar a igreja que professava a fé ortodoxa, em contraste com os hereges. Com o passar do tempo, Roma adotou o termo para referir-se a si mesma como instituição eclesiástica, centrada no papado, historicamente desenvolvida e geograficamente difundida. Os reformadores do século dezesseis procuraram restaurar o significado anterior da catolicidade, em termos do reconhecimento da fé ortodoxa; nesse sentido, argumentavam eles, a igreja católica era de fato eles e não Roma.
O principal aspecto da catolicidade da igreja primitiva estava na sua abertura para todos. Distinta do judaísmo, com seu exclusivismo racial, e do gnosticismo, com seu exclusivismo cultural e intelectual, a igreja abriu seus braços a todos que quisessem ouvir a mensagem e aceitar seu salvador, sem levar em conta cor, raça, posição social, capacidade intelectual e antecedentes morais. Ela surgiu no mundo como uma fé para todos (Mt 28.19; Ap 7.9). A única exigência para admissão era a fé pessoal em Jesus Cristo como Salvador e Senhor, com o batismo como o rito autorizado de entrada, porque manifestava o evangelho da graça (Mt 28.19; At 2.38,41).
É neste nível fundamental que esta característica (a de ser católica) deve ser entendida. As igrejas que exigem outros testes devem ser consideradas como suspeitas.
Não existe lugar numa verdadeira igreja para a discriminação de qualquer tipo, seja racial, de cor, social, intelectual ou moral, neste último caso desde que haja evidência de verdadeiro arrependimento. A discriminação denominacional também precisa ser examinada com cuidado nos casos em que as doutrinas fundamentais bíblicas sejam claramente reconhecidas.
UNA
A unidade da igreja procede de seu fundamento do único Deus (Ef 4.1-6). Todos os que pertencem verdadeiramente à igreja são um só povo e, portanto, a igreja verdadeira será distinguida por sua unidade. Esta unidade, porém, não implica necessariamente uniformidade total. Na igreja do Novo Testamento havia uma variedade de ministérios (1 Co 12.4-6) e de opiniões sobre assuntos de importância secundária (Rm 14:1-15:13). Embora houvesse uniformidade nas convicções teológicas básicas (1 Co 15.11, BLH; Jd 3), a fé comum recebia ênfases diversas, segundo as diferentes necessidades percebidas pelos apóstolos (Rm 3.20; cf. Tg 2.24; Fp 2.5-7; cf. Cl 2.9s).Havia também uma variedade de formas de adoração. O tipo de culto em Corinto (1 Co 14.26ss) não era comum nas igrejas palestinas, o­nde a adoração se baseava no modelo da sinagoga judaica e tinha um padrão mais formal, centrado na exposição da palavra escrita. Este modelo tirado da sinagoga justifica o fato de as igrejas do primeiro século serem consideradas um ramo do judaísmo. Tiago 2.2 usa até mesmo a palavra sinagoga para a reunião dos cristãos. Existem também elementos discerníveis de mais de uma forma de governo da igreja.
A verdadeira unidade no Espírito Santo de todo o povo regenerado é um fato independente da desunião denominacional exterior. O chamado para a unidade no Novo Testamento é, portanto, uma ordem para manter a unicidade fundamental da vida que o Espírito concedeu através da regeneração (Ef 4.3). Os Reformadores salientaram este ponto, distinguindo entre a igreja invisível (todos os eleitos que são verdadeiramente um em Cristo) e a igreja visível (um grupo misto de regenerados e não-regenerados). A unidade da igreja invisível é um fato consumado, concedido com a salvação.
Roma tem usado este sinal de maneira polêmica, a fim de proclamar sua unidade, comparando-a à fragmentação do protestantismo, como uma evidência de ser a verdadeira igreja. Isto, no entanto, ignora três pontos: (i) A própria Roma separou-se da igreja ortodoxa em 1054, e jamais tinha sido considerada universalmente como a única igreja verdadeira em séculos anteriores; por exemplo, a igreja celta floresceu na Inglaterra, e Patrício fundou a igreja inglesa muito antes de os missionários romanos terem chegado a Inglaterra. (ii) Os sinais devem manter-se juntos. A sucessão histórica e a unidade exterior não têm validade quando não associadas à lealdade e ao evangelho apostólico. (iii) Embora o protestantismo tenha-se mostrado às vezes necessariamente desagregador, pode ser argumentado que, através de seu desvio da doutrina bíblica, é a própria Roma que tem sido a maior causa de cismas no correr dos séculos.
As Escrituras encorajam a mais plena expressão de unidade possível entre o povo de Deus, mas elas também tornam claro que a divisão acha-se perfeitamente de acordo com a vontade divina quando a essência do Cristianismo Apostólico estiver em risco. Esta foi a razão da discórdia entre Paulo e os judaizantes (Gl 1.6-12), e entre Jesus e os fariseus (Mc 7.1-13). É significativo notar que quando Judas pretendeu escrever sobre a salvação que temos em comum, ele achou necessário insistir com os leitores para "batalhar diligentemente pela fé que uma vez foi entregue aos santos" (Judas 3). Para o Novo Testamento, a unidade está baseada em um compromisso consciente com as verdades reveladas do Cristianismo Apostólico.
O Novo Testamento dirigiu seus ensinos sobre a unidade a grupos específicos, com implicações imediatas para seus relacionamentos visíveis (Ef 2.15; 4.4; Cl 3.15). Jesus orou pela unidade, que ajudaria o mundo a crer (João 17.21); embora o paralelo entre esta unidade e a dEle com o Pai (17.11,22) confirme o caráter essencialmente espiritual da unidade bíblica, esta certamente inclui identificação visível de vida e propósito, pois Jesus em toda a sua missão expressou uma união visível e demonstrável com o Pai. Em outras palavras, é preciso buscar uma unidade visível mais plena do que aquela que está sendo experimentada pelos que são fiéis ao evangelho apostólico. Este fato tem especial importância quando dois ou mais grupos que têm uma fé bíblica estiverem operando na mesma área, como, por exemplo, em um campus universitário. O desafio mais profundo deste ensinamento, porém, situa-se ao nível dos relacionamentos na igreja local. Nesse ambiente, a unidade da vida em Cristo deve expressar-se através do cuidado e compromisso genuínos e tangíveis de uns para com os outros. Na ausência disto, a reivindicação de ser uma verdadeira igreja cristã é posta em dúvida (1 Co 3.3s).
SANTA
O povo de Deus forma a nação santa (1 Pe 2.9). No sentido mais profundo a igreja é santa, da mesma forma que todo indivíduo cristão é santo em virtude de estar unido a Cristo, separado para ele e revestido com sua justiça perfeita. Na sua posição diante de Deus em Cristo, a igreja é irrepreensível e isenta de qualquer mancha moral. A distinção entre a igreja visível e a invisível aplica-se aqui, desde que esta santidade imputada não pertence aos membros da igreja não confiam pessoalmente em Cristo como Salvador.
A união com Cristo envolve também uma santidade de vida que seja visível. Desse modo, a relação da igreja com Cristo, o seu cabeça, será expressa no caráter moral e nas características especiais de sua vida e de seus relacionamentos comunitários. A igreja alheia à santidade é alheia a Cristo. Quando Cristo dirigiu-se à sua igreja, ele esperava dela essa mesma diferença moral e foi severo em seu julgamento quando observou que ela lhes faltava (Ap 2.-3). A fim de não desanimarmos ao aplicar este teste, vale a pena lembrar que grande parte da vida da igreja do Novo Testamento foi eivada de erros, divisões, falhas morais e instabilidade. Não obstante, a presença de um sinal visível de santidade é uma característica invariável da igreja de Deus.


Conclusão

É urgente e premente uma reflexão quanto relevância e a atuação da igreja no mundo da globalização .
Sejamos igreja. Corpo vivo de Cristo. Submissos a ordem do Mestre e consciente da brevidade do tempo para a salvação. Sejamos igreja que festeja a vitória de Cristo na Cruz e que é contristada pela consciência de pecado. Sejamos igreja santa e poderosa na evangelização para que desfrutemos do perdão, do amor e da comunhão íntima, expressão inconteste da nossa reconciliação com Deus em Cristo Jesus.
A meta da igreja consiste em chegar a ser como Cristo, compartilhar as Boas da salvação gratuita que Deus nos oferece, fazer discípulos , ajudar uns aos outros mutuamente e preservar-se fielmente na obediência até a sua volta.
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ,,ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Mateus 28;19-20

Referência Bibliográfica
KEELEY, Robin; ENGLISH, Donald: Fundamentos da Teologia Cristã. . São Paulo: Ed Vida, 2000
MILNE, Bruce. Manual de doutrina Bíblica. In: Conheça a verdade. São Paulo:
ABU Editora, 1987.
Stanley, J Grenz. Dicionário de teologia. Edição de bolso. São Paulo: Ed. Vida. 2000
GILPATRICK, Teston. A missão de Deus. São Paulo: Editora Vida Cristã, 1983.

1 Para os pentecostais a igreja iniciou no dia de pentecostes, para a maioria das igrejas protestantes a Igreja começou com o ministério de Jesus.

2 Stanley J Grenz, Professor de teologia e ética na Universidade Carey Hall / Regente em Vancouver, British Columbia No Canadá . Doutorado em teologia pelo King’s college, Universidade de Londres.
Área do estudo teológico interessado em entender a igreja (derivado do termo grego ekklêsia, “igreja”)

3 Igreja Universal no sentido de Mundial , não expressando aqui uma denominação.


Direitos reservados a Oseias de Lima Vieira

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terça-feira, 2 de setembro de 2008

PROTESTANTISMO BRASILEIRO

PROTESTANTISMO BRASILEIRO

Por Oséias de Lima Vieira 1


Na Europa e EUA os cristãos não-católicos se auto identificam como cristãos, sem nenhuma outra identificação secundária.Na América Latina e, portanto em particular aqui no Brasil esta identificação tem sido complicada.
Há CINCO títulos para Cristãos não católicos.
CRENTE
EVANGÉLICO
PROTESTANTE
PENTECOSTAL
NEOPENTECOSTAL
CRENTE: Missionários – a partir de 1850 Denominavam a todos aqueles que abandonando suas antigas crenças e práticas religiosas passava a crer em Jesus Cristo como o único Salvador e Senhor.
EVANGÉLICO: Movimento Evangélica _ Europa e EUA. União entre Igrejas protestante, visando enfrentar o expansionismo do ultramontanismo católico. Reinterpretado e utilizados entre os protestante para demonstrar uma certa união para o evangelismo. “ SOU EVANGÉLICO”.O termo evangélico, embora originalmente significasse aquilo que é concernente ao evangelho, no Brasil ganhou predominantemente a acepção de protestante, numa referência aos cristãos que adotam a herança da Reforma Protestante, notadamente os chamados Solas da Reforma: Sola Scriptura (somente a Bíblia), Sola Gratia et Fide (somente a graça mediante a fé), Solus Christus (somente Cristo) e Soli Deo Gloria (glória somente a Deus).Em algumas áreas de colonização germânica no Brasil o termo Evangélico refere-se às igrejas Luteranas e Reformadas, originárias da Reforma Protestante do século XVI. Em Alemão o termo Evangelisch é usado para as igrejas territoriais nascidas no século XVI, enquanto Evangelikal para o desdobramento posterior do protestantismo. Em Inglês, Evangelical é referente ao protestantismo conservador, não-fundamentalista e não-liberal baseado na Bíblia (embora não a interpretando literalmente) e na ênfase na necessidade do indivíduo passar por uma conversão pessoal ("nascer de novo").
PROTESTANTE. Movimento Histórico século XVI – Martinho Lutero. Tem uma carga negativa. “Aqueles que protestam conta a Igreja católica.”No sentido estrito da palavra, o protestantismo designa o grupo de príncipes e cidades imperiais que, na dieta de Speyer, em 1529, assinaram um protesto contra o Édito de Worms que proibiu os ensinamentos Luteranos no Sacro Império Romano. A partir daí, a palavra "protestante" em áreas de língua alemã ainda se refere às igrejas luteranas, enquanto que a designação comum para todas as igrejas originadas da Reforma é Evangélica.No sentido lato, a palavra designa todos os grupos religiosos cristãos de origem européia ocidental, que romperam com a Igreja Católica Romana como resultado da influência de Martinho Lutero, fundador das igrejas luteranas, e de João Calvino, fundador do movimento Calvinista. Um terceiro ramo principal da Reforma, que entrou em conflito tanto com os Católicos como com os outros Protestantes é conhecido como Reforma Radical ou Anabatista. Lutero e Calvino distanciaram-se destes movimentos mais radicais, que eles viram como uma semente de insubordinação social e fanatismo religioso. Calvino fala de "fantasistas".Alguns grupos cristãos ocidentais não-católicos são apelidados Protestantes, ainda que os respectivos grupos não reconheçam quaisquer ligações a Lutero, Calvino ou aos Anabaptistas.Protestantismo de Imigração:Movimento Histórico:Þ Europa sendo invadida por NapoleãoÞ Fuga da Família Real Portuguesa para o BrasilÞ Acordo com a Inglaterra (força Marítima)Þ Tratado do Comércio e da navegação (1808)Þ O Influxo de ingleses significou o início do culto protestante no Brasil.Þ Não fora permitido construções de capelas ou igrejas protestantes.Protestantismo de Origem Missionária.Frase de Cotton Mather (1669) “ O Catolicismo Implantara na América Latina um Cristianismo Deformado”.Esta Frase foi repetida ao Longo da História por Vários historiadores do protestantism.Nos EUA surgiu a vocação de transmitir para a América Latina os benefícios do “Sonho Americano” ou o “estilo Americano de Vida” ( destino Manifesto)Duas Teologias no Protestantismo de MissãoTeologia Calvinista - Vamos investir na educação que ela deixará os eleitos florescerem ( foi menos difundida)Teologia conversionista - O mecanismo de Salvação consistia na consciência de culpa, seguida de ato voluntário de aceitação da oferta de salvação, sucedida pela justificação e pela santificação progressiva.A teologia conversionista gera uma mudança cultural. O individuo adota novos padrões de vida.
PENTECOSTAL: Herdeiro do protestantismo, no Brasil o Pentecostalismo chegou em 1910-1911 com a vinda de missionários originários da América do Norte: Louis Francescon, que dedicou seu trabalho entre as colônias italianas no Sul e Sudeste do Brasil, originando a Congregação Cristã no Brasil; Daniel Berg e Gunnar Vingren inciaram suas missões na Amazônia e Nordeste, conseqüentemente nascendo as Assembléias de Deus. O movimento pentecostal pode ser dividido em três correntes. A primeira, chamada pentecostalismo clássico, abrange o período de 1910 a 1950 e vai de sua implantação no país, com a fundação da Congregação Cristã no Brasil e da Assembléia de Deus, até sua difusão pelo território nacional. Desde o início, ambas as igrejas caracterizam-se pelo anticatolicismo, pela ênfase na crença no Espírito Santo, por um sectarismo radical e por um ascetismo que rejeita os valores do mundo e defende a plenitude da vida moral. Paralelamente várias denominações protestantes experimentaram movimentos internos, com manifestações pentecostais, assim foram denominados "Renovados", como a Igreja Presbiteriana Renovada, Convenção Batista Nacional, Igreja do Avivamento Bíblico e Igreja Cristã Maranata..A segunda corrente começa a surgir na década de 50, quando chegam a São Paulo dois missionários norte-americanos da International Church of The Foursquare Gospel. Na capital paulista, eles criam a Cruzada Nacional de Evangelização e, centrados na cura divina, iniciam a evangelização das massas, principalmente pelo rádio, contribuindo bastante para a expansão do pentecostalismo no Brasil. Em seguida, fundam a Igreja do Evangelho Quadrangular. No seu rastro, surgem O Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Casa da Bênção e diversas outras menores.A terceira corrente, a neopentecostal (Neo-Pentecostalismo), tem início na segunda metade dos anos 70. Fundadas por brasileiros, a Igreja Universal do Reino de Deus (Rio de Janeiro, 1977), a Igreja Universal do Reino de Deus (Rio de Janeiro, 1980), a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (Brasília, 1992) e a Renascer em Cristo (São Paulo, 1986) estão entre as principais. Todas utilizam intensamente a mídia eletrônica e funcionam como empresas. Pregam a Teologia da Prosperidade, pela qual o cristão está destinado à prosperidade terrena, e rejeitam os tradicionais usos e costumes pentecostais.
O neopentecostalismo constitui a vertente pentecostal mais influente e a que mais cresce. Também são mais liberais em questões morais.Este último é também conhecido como pentecostalismo autônomo: Igrejas com forte caráter individualista. Centralizada na pessoa do líder.Ex Igreja do Apóstolo....., Igreja da Bispa....., Igreja do Profeta ....., etc.Em suma podemos concluir que no Brasil o protestantismo está revestido de grandes contradições. È necessário que tenhamos uma compreensão histórica, para que não venhamos a ter uma visão distorcida de nossas raízes.
Referência Bibliográfica.
CAMPOS, Raimundo. Estudos de História Moderna e Contemporânea: São Paulo, Editora Atual, 1988
KISTLER, D (Editor). Os puritanos e a Conversão. São Paulo, PES, 1993
MARQUES,Adhemar Martins e outros. História contemporânea através de textos.São Paulo, Contexto, 1994
SPENER, P. Jacob. Pia Didéria – Um clássico do Pietismo Protestante. Local e data não informada
VVAA, Luta pela Vida e Evangelização. A tradição Metodista na Teologia Latino Americano. Unimep, São Paulo, 1985
[1] Professor de Geografia Bíblica e História da Igreja. Graduado em Geografia pela Universidade Federal de UberlândiaGraduando em Direito pela Universidade de Uberaba