sexta-feira, 9 de maio de 2014

Cocaína em mamadeira: sobrevivente de espancamento coletivo diz que "estamos vivendo na Idade Média"

Dinalva Fernandes, do R7
Daniele sofre com as sequelas do que sofreu após perder a filhaMárcio Fernandes/ 26.06.2008/ Estadão Conteúdo
Daniele Toledo do Prado, de 29 anos, teve a vida destruída após ser apontada como a assassina de sua própria filha, Vitória do Prado Iori Carvalho, de um ano, em 2006. Na época, ela foi presa suspeita de ter colocado cocaína na mamadeira da criança. Depois de ser espancada dentro da prisão, ela perdeu parte da visão e da audição.

Após o linchamento e morte da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, Daniele voltou a lembrar de tudo o que passou, mas acredita que teve sorte, pois conseguiu sobreviver às agressões. Fabiane foi apontada com uma sequestradora de crianças e espancada até a morte no Guarujá, litoral de São Paulo. Para Daniele, a sociedade retrocedeu ao querer fazer justiça com as próprias mãos.

— A impressão que eu tenho é que estamos vivendo na Idade Média. As pessoas não pensam umas nas outras, mas apenas nelas mesmas.

Daniele acredita que os agressores devem ser punidos para que isso não ocorra novamente.

Vida destruída
A filha de Daniele morreu no dia 29 de outubro de 2006 depois de sofrer paradas cardiorrespiratórias no Pronto-Socorro de Taubaté, no interior de São Paulo. Na época, levantaram a hipótese de que havia cocaína na mamadeira da criança. O caso foi amplamente divulgado na mídia e Daniele ficou conhecida como 'O Monstro da Mamadeira'. Ela foi presa em flagrante e colocada em uma cela com quase 20 detentas na Cadeia Feminina de Pindamonhangaba. Lá, a dona de casa foi espancada durante horas e uma caneta foi enfiada em seu tímpano.

No dia seguinte, ela foi hospitalizada e transferida para o Presídio de Taubaté, onde permaneceu por 36 dias até que um laudo apontou que não havia cocaína na mamadeira da bebê. Por conta das agressões, Daniele fraturou o ombro e perdeu parte da visão e audição do lado direito. Ela também sofre com dores e tem ataques convulsivos. Posteriormente, foi comprovado de que a menina morreu devido a um medicamento que tomava.

Apesar de ter sido inocentada pelo crime em 2008, Daniele ainda sofre preconceito. Ela evita sair de casa desacompanhada devido ao assédio das pessoas. Arranjar um emprego também é difícil. Ela chegou a fazer faxina, mas decidiu sair do emprego por causa das fortes dores que sente no ombro. Duas semanas depois, a casa onde trabalhava foi assaltada e, novamente, a desconfiança caiu sobre a dona de casa.

Hoje em dia, Daniele mora com seu filho mais velho, de 11 anos, de favor na casa de uma tia de Vitoria em Taubaté. Ela já pensou em se mudar de cidade, mas não tem condições financeiras. Até hoje, Daniele não recebeu indenização do Governo do Estado, pois o caso ainda está na Justiça.

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